É, ficou seu aroma

   Relendo João do Rio, voltei à sua crônica A Crise do Perfume.  Publicada no dia 27 de maio de 1916, há 86 anos, portanto, ela continua viva e bela! Uma dádiva para as pessoas que curtem os bons cronistas que já morreram. 
   Na minha modesta opinião, eles devem ser sempre lembrados. Aliás, é o que tenho procurado fazer quando trago seus textos para minhas crônicas. Até para torná-las palatáveis; menos insossas.

   Muito bem. É sabido que os cronistas geralmente buscam  nas gazetas os assuntos para escrever suas páginas.
   Foi o que fez o  João Paulo Emílio Cristovão dos Santos Coelho Barreto (1881-1921) - este o nome de batismo do João do Rio - para escrever A Crise do Perfume
   Fê-lo em cima de uma notícia que ele chamou de "alarmante e verídica". 
   A notícia dava conta de um possível sumiço dos perfumes - acreditem! - em Paris e no Oriente. E bradou: "os perfumes escasseiam, sobem os preços, estabelece-se a crise dos odores."
   Em seguida, pergunta: "Que será das elegantes, que será de todos nós?" Paulo Barreto alonga-se, então, em observações primorosas sobre o perfume em si.

   (A beleza do seu texto obrigou-me a trazer estes fragmentos da sua para esta minha crônica domingueira.)

    Depois de dizer que "o perfume é o dom de Deus para o afinamento dos sentidos", João do Rio, num expressivo parágrafo, leva o leitor ao Paraíso de Eva e Adão, escrevendo: "Nas legendas do Paraíso não encontramos apenas a árvores da glória, a árvore de vida, a árvore da salvação e a árvore do bem e do mal."

     "No Paraíso - prossegue - desabrocham lírios, rosas, jacintos, violetas."
     Vale-se do momento, e recorda a lenda muçulmana, segundo a qual, "os perfumes nasceram das lágrimas de Adão como as pérolas nasceram das lágrimas de Eva..." Para logo admitir, que "ninguém nunca deixou de acreditar que os arômatas vieram do Paraíso".

     Em outro trecho de sua delicada crônica, o autor de A alma encantadora das ruas  faz ver que as mulheres, sem perfume, perdem "uma irradiação de santidade"; e que "O cheiro é um pouco a alma das mulheres". Ele tem razão.

     Aproveito a deixa, e  lhes passo a contar, meus caros leitores, o que me aconteceu - e não faz muito, - envolvendo nessa estória um pequeno frasco de perfume.
     Andava eu por aí voando qual um sabiá sem rumo! De repente uma pessoa querida me deu de presente um perfume francês, cuja fragrância, pareceu-me vir do Paraíso. Adorei!

     Mas vejam como são as coisas desta vida velha: por motivos, que mantenho guardado a sete chaves, me vi forçado - Oh! Como sofri! - a devolver aquele presente, por isso ou por aquilo, significativo e cativante.  E ponto final.

     Escreveu João do Rio: "O cheiro é um pouco a alma das mulheres."
     Tudo aconteceu! Tudo passou!
     Juro, porém, que dela, ficou o seu aroma...

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 12/02/2012
Reeditado em 13/05/2013
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