Feira Livre

“Mulher bonita não paga, mas também não leva!”

Os feirantes animados começam bem cedo a gritar seus bordões. Engraçados ou não; eles marcam no inconsciente feito um MEME se autopropagando no cérebro.

Na Rua Américo Brasiliense, Bairro Santo Amaro na capital de São Paulo na minha infância, a feira livre subornava meus instintos, através dos seus aromas e sabores. As bancas ofereciam seus produtos numa arrumação invejável. Montes de laranjas, mãças, peras..., se equilibravam umas nas outras como malabaristas de circo. Lindo de se ver. Bom para comprar e comer! Espetáculo para os olhos!

Em frente à casa da minha avó o aroma das especiarias flertava nos narizes escravizando seus donos. Ali, a generosidade dos aromas era servida a colheradas pelo feirante!

Óculos fundo de garrafão deixavam seus olhos miudinhos e engraçados! Jesus era seu nome, não me recordo do seu sobrenome. Coisa da memória desativada!

“Seu Jesus quero duas colheres de pimenta do reino; duas colheres de canela em pó.”

Sentada com o meu avô Adão na frente da sua casa observamos o movimento da feira. Eu tinha empatia por aquele velhinho de paletó preto desbotado que precisava por tudo bem rente aos olhos para enxergar. Vovô pediu para eu prestar atenção como algumas senhoras roubavam o feirante; entregavam dinheiro a menos ou tiravam descaradamente mercadorias da sua banca.

“A partir de hoje vamos ajudar Jesus sem pedir nada em troca. Vamos ser os seus olhos e acabar com a ladroeira.”

Virei feirante nas minhas férias! Às 5 da manhã, eu, minha irmã Marisa, o meu avô ajudávamos Jesus a botar a banca para iniciar a venda das especiarias. Tenho até hoje os aromas perpassando a minha memória. Troco conferido! Olhar de águia nas mulheres espertas... Ladronas!

Vovô ficou sabendo por Dona Maria a feirante da banca de frutas que Jesus estava criando três sobrinhos órfãos com o seu trabalho na feira.

Fim de férias! A choradeira inicia uma semana antes! Encosto a cabeça no colo da vovó Irene do lado esquerdo, Marisa encosta do lado direito, mais choro.

Vovô retorna com a gente para o interior!

Dia de feira livre! Jesus, procura pelo meu avô. Nada! Ele, entra em desespero, larga a banca e vai para a casa da vovó, gritando:

“Ana, Ana, por favor, vem ajudar Jesus! Estou desesperado! Ana venha, por favor! Estou pedindo um milagre!”

Vovó assustada com os gritos de Jesus falou da nossa volta às aulas, e, por consequência para Piracicaba! Jesus senta e chora! Não podia contar com o vovô, nem comigo e muito menos com a vovó, pois ela, também usava óculos fundo de garrafão, por isso, seus olhos eram tão miudinhos, lá no fundo da “baroca”!