A garota
            do arranha-céu



     Eu tinha oito anos quando conheci o primeiro arranha-céu, o Hotel Excelsior de Fortaleza.  Na década de 1940, dizia-se no Ceará que o Excelsior era o maior prédio de alvenaria do mundo. Sim, do mundo.
     Nunca soube se essa história era verdadeira. Pra muita gente, tudo não passava de uma exagerada dose de vaidade dos cabeças-chatas, empolgados com o seu bonito arranha-céu, erguido no coração da sua capital.
     Verdade ou não, o certo é que o Hotel Excelsior, pela sua imponência e charme, chamava a atenção dos cearenses; principalmente dos que - e este era o meu caso - visitavam Fortaleza pela primeira vez.
     Pois bem. Naquela tarde, na companhia de minha mãe, entrei no elevador do Excelsior, de portas pantográficas, e, rapidamente, alcancei o seu terraço. Lá fiquei, até as primeiras lâmpadas alumiarem a Praça do Ferreira, ainda com sua famosa coluna da hora e seu movimentado abrigo Central. A coluna e o abrigo desapareceram!
     De repente os arranha-céus foram se multiplicando, e Fortaleza  transformou-se no que é hoje: uma cidade vertical. Desapareceu, também, a maioria de suas casas.
     Quando vim morar em Salvador, dezembro de 1957,  logo descobri que a capital baiana tinha mais edifícios do que Fortaleza, embora ainda predominassem seus sobrados, alguns históricos.  
     Mas a cidade continua crescendo verticalmente! Neste momento, acompanho a construção de dois espigões: um com nove andares e o outro com doze. Eles não estão me tirando somente o céu; estão, também, roubando parte do meu mar, o mar azul da Pituba.
     Estão tão próximos do meu apartamento, que, vez por outro,  vejo-me violentado na minha intimidade. Nos prístinos tempos, eu circulava de cueca no meu terreiro sem a mínima preocupação. Agora, tenho que recorrer a um chambre, que me dá u ´a mentirosa sensação de riqueza.
     Mas é forçoso reconhcer que  os espigões também trazem algumas compensações. Exemplo.  Em um arranha-céu, aqui, junto ao meu, uma bela jovem, vestindo um biquíni, fio dental, brinda-me, nas manhãs de sol generoso, com furtivos mergulhos na sua piscina de água azulada e transparente...
     Fico, horas a fio, a admirá-la. Enxergo-a sem precisar de luneta ou binóculos. Neste instante, vejo-a exposta ao sol escaldante do meio-dia com a parte superior do seu biquíni ligeiramente caído, deixando à vista, parte do seu provocante e e moreno busto...
     É a garota do arranha-céu, com seu corpinho cheio de graça e beleza, alimentando a imaginação, ainda muito viva e fértil, do seu vizinho setentão...
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 25/01/2007
Reeditado em 11/03/2020
Código do texto: T357902
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