Assalto: um real e cinco pãezinhos

O negócio com venda de imóveis não ia bem: Muita inadimplência, muita gente deixando de pagar o aluguel e a venda de imóveis estava difícil naquele ano. Cansado das dificuldades, Fernando resolveu mudar de ramo. Pegou as últimas economias, vendeu o automóvel pediu empréstimo ao Banco. Pronto! Estava capitalizado.

Ali no mesmo ponto abriu a padaria, na subida da vila Terezinha, baixo do morro.

Não deu outra, as coisas começaram a clarear, as vendas cresceram dia-a-dia e, nas primeiras semanas de funcionamento, já se animava, tanto que colocou uma geladeira da Kibon e diversificou o estoque, mas, no 16º dia, veio à surpresa, no fim da tarde, quando conferia as férias para ir ao banco – os dois assaltantes entraram pelo lado e o surpreenderam na salinha do escritório. Levaram todo o dinheiro, a calculadora e, ainda, os cigarros, todos os pacotes.

Dali pra frente não teve mais sossego. Dia sim, dia não lá vinham eles. A polícia não resolveu nada. Não tinha contingente, havia outros casos mais graves e urgentes – eram as desculpas. Do 20º dia pra gente, as visitas dos “amigos do alheio” passaram a ser diárias. Seu mundo caiu, não dava mais, pois, além de dinheiro, vinham com sacola e lavam refrigerantes, sorvetes, e tudo o que dava pra carregar correndo até desaparecerem pelas vielas da favela.

Não daria para continuar. Já tinha decidido fechar. Fernando iria só esperar o fim do mês, pra cerrar as portas de vez, antes que levasse um tiro ou algo assim. Foi justamente no último dia, no dia 30, foram 3 assaltos. Já eram 3 quadrilhas de pivetes diferentes que ficaram fregueses.

No último assalto, um cara enorme, “dimenor”, 14 anos foi direto no caixa: - “Dá tudo aí, tio!”.

Fernando olhou pra ele e arriscou: - “Não adianta não só tenho um real no caixa, que entrou agora, o resto seus amigos levaram há meia hora atrás”.

- Vai me dá esse “um real” mesmo e embrulha 5 pãezinhos. Fim!