Sem balões no céu

                    Os balões devem ser com certeza
                    As estrelas aqui desse mundo.
                                             Braguinha

      1. Sobre a cidade de São Paulo, coloridos balões voavam lentos e ameaçadores. Passeavam, suavemente, quase tocando nos pararraios dos prédios mais altos da bela metrópole, grande e "desvairada".
      2. A televisão os mostrava, em repetidos flashes, alertndo para a desgraceira que eles poderiam causar, com a sua queda pegando fogo.
      3. Enquanto uns - iluminados e iluminando - desapareciam no horizonte de concreto, outros crepitavam  em pleno voo, matizando o céu paulistano com pedacinhos de papel incandescentes.
      4. Aí eu disse: são os baloeiros em
ação; indiferentes à Lei Federal n. 9 605, de 1998, que proíbe "a fabricação, a venda, o transporte e a soltura de balões". 
      5. Mas, pelos balões eles estão dispostos a tudo; até infringir a lei que proíbe fabricá-los, vendê-los, transportá-los e soltá-los.
      6. Aceito a proibição. O mundo agora é outro; cresceu, diria, até exageradamente! 
      7. É o arranha-céu de vinte andares, o mega supermercado, a fábrica de bebidas, o depósito de papel, o posto de gasolina, o paiol de munição, o poço de petróleo, o morro, a favela, et cetera, et cetera, que podem ser atingidos por um balão em chama. E a tragédia é inevitável.
      8. No meu tempo de menino, alegre e feliz, lá no sertão do Ceará, os balões pegavam fogo no céu e caíam na terra, sem causar danos maiores. Eram balões pequenos, bem pequenos. Queimavam durante o voo, e no espaço viravam cinza.
      9. Mas o homem, irresignado com a fragilidade dos pequenos balões, aumentaram-lhes o tamanho, transformando-os em um brinquedo perigoso. Foi preciso dizer chega, tirando-os das noites juninas.
      10. Num desses são-joões, escrevi que as noites frias de junho, sem os balões, perderam muito do seu encanto e mistério. Ficaram escuras e tristes.
      11. Perguntarão: e os fogos de vista? Os rojões? Respondo: ah, eles, por mais bonitos - adrianinos ou não -, juntos, não têm a poesia de um balão.
      12. Agora, só nos resta recordar, com saudade, os bons tempos dos céus juninos ou joaninos cheios de balões...

                              
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 14/06/2012
Reeditado em 17/10/2019
Código do texto: T3724162
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