Vizinha Indesejada

      Quem acompanha as minhas crônicas, há de lembrar do medo que minha família tem de cobra.
     Pois é, esse "causo" é mais recente, foi ainda neste ano, e , novamente eu não estava presente (que pena, de novo !).
     Minha cunhadinha querida foi quem me relatou, fazendo as vezes da mãe, que deve ter rido um bocado, lá do céu.
- “Lili de Deus”, ela começou a me contar, ao telefone, que tinham acabado de comprar uma casa na praia e que a casa era assim meio “boa”, tinha um muro de um lado, do outro uma cerca e nos fundos uma “floresta”. Contou-me ainda que nos fundos da casa, havia um pequeno quartinho, onde o antigo dono deixara várias ferramentas, e, uma velha bicicletinha. Minha sobrinha e afilhada Loló, encheu tanto a paciência da mãe, que ela foi lá puxar a tal, para que a menina pudesse deixá-la em paz, para continuar a limpeza da casa e do terreno.
     A menina estava radiante, com o novo brinquedo, meu irmão (aquele caçulinha da outra história de cobra), limpava o quintal, arrancando a erva daninha e, tentando mostrar serviço. Minha irmã, mais velha, a maior “cagona” de cobra que já conheci depois da mãe e de mim mesma, estava lá, no pretenso jardim, a fazer canteiros de doze horas e umas outras flores que não se prestam muito a cuidados, talvez umas marias-sem-vergonha, colhidas lá mesmo de algum jardim.
     Minha cunhada já estava lá pelo décimo “Lili de Deus”, quando me disse que ao puxar um ancinho, algo caiu , que parecia ser um pacote de cimento, tal o barulho produzido. E lá estava ela, enroladona (até hoje não consigo imaginar uma cobra caindo de algum lugar, e em seguida já aparecer enrolada, mas vá lá...). Ela ficou paralisada, mas em seguida, sua coragem de mãe foi mais forte que o “cagaço” de cobra, e trancou depressa a porta do quartinho. Chamou meu irmão, gritando mesmo com ele, dizendo que tinha uma cobra no paiol. Meu irmão, “cagão” caçula, nem pestanejou, e largou logo o facão velho no meio da grama e já estava, em dois saltos, lá na porta da cozinha.
     Minha irmã, já estava dentro da casa, no quarto e em cima da cama, e depois, ao anoitecer, quando todos já se preparavam para dormir, lá estava ela, de bunda prá cima, olhando embaixo de todas as camas, com medo que a cobra tivesse adentrado à casa, quem sabe subindo das escadinhas. Olhou bem, dentro do vaso sanitário, dizendo que nunca se sabe onde é que a cobra tá com vontade de ficar.
     Ninguém acreditou muito na história da minha cunhada, mas por via das dúvidas, meu irmão avisou ao antigo proprietário, que passaria ali no dia seguinte para retirar suas coisas do tal quartinho. 
     Passados dois dias , o antigo proprietário foi até meu irmão, contando que de fato, havia uma cobra no paiol, e que não se sabe como ela entrou lá, pois não tem nenhum buraco na parede, por onde ela tivesse passado. Conjecturas mil foram criadas, desde até que a tal subiu pela parede de dois metros do muro, ou que chegou lá bem pequenina, passando por um buraquinho qualquer, e de tanto rato que comeu lá, e restos de comida de nem sei onde poderia surgir, é que ficou com aquele tamanho "enorme". 
     Era uma serpente venenosa, uma JARARACA (Bothrops jararaca), serpente de até 1,6 m, de corpo marrom com manchas triangulares escuras, faixa horizontal preta atrás do olho, e região ao redor da boca com escamas de cor ocre uniforme. Lá no livro vermelho da nossa infância, diz ainda que a dita cuja medonhenta é responsável por grande parte dos acidentes ofídicos registrados em sua área de ocorrência. Em resumo, ela é uma tremenda estraga domingo, indesejada de nós, aqui em nosso lugar.
     Quanto a mim, bem, faz quase um ano que meu irmãozinho comprou a casa, e eu ainda não pus os meus pés lá, e olhem que eu adoro uma praia! Eu heim !
Lili Maia
Enviado por Lili Maia em 27/07/2005
Reeditado em 11/01/2008
Código do texto: T38090
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