COBRANÇA DE AMIGOS.

Por Carlos Sena


 
Tem gente que fica cobrando de nós. Cobram, dentre outras coisas, PRESENÇA. Os amigos de botequim podem até cobrar de nós nossa presença, porque quem é de botequim sabe como é ruim beber sozinho. Afinal, “mesa de bar é onde se toma um porre de liberdade”. Por outro lado, liberdade é processo de socialização de sentimentos que, quando compartilhados ficam mais robustos e ela, a liberdade parece que fica mais liberta a despeito da redundância. Por isto, cobrança de amigos para tomar um porre talvez seja boa, deixe a gente meio que instigado a também fazer essa tão conhecida “terapia de grupo” que tão bem os bares, os botequins, os “pega bebo” se prestam.
Mas, há cobrança de amigos que não são iguais àquelas que citamos em função do porre no botequim. São cobranças que se fazem em nome de amizades que, muitas vezes nem são tão substanciosas como se quer atribuir. Cobrar presença de amigo é meio doloroso sob certos ângulos de visão. O primeiro equívoco dessas cobranças é que geralmente se cobra o que foi prometido ou o que foi pactuado como forma de acordo. Algo como: “o que é devido deve ser cobrado”. Mesmo assim, nas questões de amizade, há controvérsia. Cobrar ciúme de alguém a quem se namora pode ser parte integrante do jogo da sedução ou da manutenção das relações afetivas. Mesmo assim, cobrar ciúme é relativo. Porque essa cobrança passa pela avaliação dos parceiros naquilo que é tão subjetivo como o sentimento. Contudo, no quesito namoro, casamento, etc., há que se ter compreensões variadas, posto que são cobranças estabelecidas no rol dos “protocolos” estabelecidos pelos interessados. Na condição de amigos de verdade, essas cobranças perdem o sentido. Os verdadeiros amigos se constroem na relação em que a própria relação se faz o objetivo de si mesma. Neste caso, as cobranças ficam semitonadas, destoantes do significado do sentir. Sentir, é o substrato das amizades, principalmente de AMIGOS VERDADEIROS.
Portanto, cobrar a presença de alguém a quem se tem como amigo de verdade é fajutiçe.  Os amigos verdadeiros nada se cobram. Um sente que o outro existe e isto já é o suficiente. Quanto dois amigos de verdade se encontram parece que não houve hiato de tempo entre eles. Portanto, amigo de verdade a gente nem convida para o aniversário que ele liga pra te dizer da lembrança. Muitas vezes ele até liga pra nos lembrar que o nosso aniversário está chegando. Ele sabe tanto de nós que já sabe, inclusive, que o amigo não se liga muito em aniversário.
Amigos não cobram amizade, primeiro porque amizade não de debita, se credita. Amizade não existe na mesma lógica de um dinheiro emprestado que quando não se paga o outro vem e nos cobra. A teoria da plantinha que precisa ser regada todo dia pode até ser adaptada para a manutenção das amizades. O ruim é que há “amigos” que não entendem bem de plantinha, muito menos de jardinagem...  Os amigos verdadeiros sabem um do outro e isto basta.