O AVESSO DA VIDA

Domingo à tarde, calor escaldante, todos os lugares repletos de gente, praias do Laranjal, riachos e cascatas na Cascatinha, represas na Colônia de Pelotas e mesmo a Praia do Cassino abrigavam uma multidão procurando refrescar-se. Pensei, vamos aproveitar que o supermercado deverá estar quase vazio e fazer as compras para o Natal. Fomos por volta das quinze horas, temperatura ainda muito elevada, porém, com o ar condicionado do ambiente até que poderia ser considerada suportável. Lista na mão, caneta na outra e começamos a maratona de alguns quilômetros andando entre gôndolas e prateleiras separando produtos que precisávamos comprar. Após cerca de duas horas de caminhada, chegamos ao destino final, ao caixa.

Durante todo o percurso observamos alguns aspectos favoráveis e desfavoráveis aos fregueses consumidores contumazes de nossos supermercados, assim como nós, que a cada final de mês é obrigado a realizar esta tarefa: fazer compras.

Começamos analisando nossa verdadeira posição. Não somos só consumidores, somos também empregados sem salário, sem desconto previdenciário e nem Carteira de Trabalho assinada que retiram das prateleiras os produtos que necessitam e ensacam frutas e legumes trabalho este que fazemos de forma gratuita aos comerciantes. A única tarefa realizada pelo funcionário remunerado é pesar o que compramos e que dependa de pesagem, porque ele fiscaliza o que está sendo pesado e lacra a embalagem para que não seja adulterada. Garantia de precisão e atitude pontual. A única coisa favorável ao consumidor é que ele pode escolher diretamente o produto e opinar pela qualidade do mesmo.

Também nos deparamos com questões desfavoráveis. Muitos produtos encontram-se sem o preço visível nas embalagens e/ou nos expositores onde ficam. Temos que procurar uma leitora de barras para verificar o preço, quando encontramos algumas vezes ela nos diz que o produto não está cadastrado. Como comprar assim? Verdadeira compra no escuro. Outro aspecto é a falta de embalagens plásticas para ensacar frutas e legumes. Estão cada vez mais escassas. Por outro lado pensamos que estas embalagens poderiam ser de papel que pelo menos nos ajuda a preservar a natureza, mas, não são disponíveis embora o próprio supermercado incentive a retirada das sacolas plásticas de circulação para a conservação do meio ambiente. Incoerências...

Para completar nossa domingueira visita às compras, encontramos os caixas lotados pois eram em número insuficiente para atender com rapidez os poucos fregueses que lá estavam. Poucos fregueses, menos empregados ainda.

Realmente, parece que tudo está pelo avesso da vida.