PALAVRAS QUE JÁ NÃO SUPORTO

Fico perguntando-me como-se e quem cria certas expressões que logo caem na boca do povo.

"Tipo assim", "Fala sério", "Bicho", "Xará", "Com certeza", entre outros,

inserem-se no vocabulário do dia-a-dia e disseminam-se como epidemia verborrágica.

Imagino a criação de tais pérolas em uma mesa de bar, ou no futebol de fim de semana ou talvez,

porque não, na Academia Brasileira de Letras,

local evidente donde deveriam estar sendo criadas palavras e expressões novas,

com a única preocupação de que nossa Língua não morresse ou caísse em desuso, ou ainda,

com a finalidade de buscar-se novos termos para que cada coisa ganhe o próprio nome e assim evitar as dubiedades.

Mas, afinal, qual é a força dessas expressões?

Quem as retransmite e qual a causa de sua permanência?

Será a sonoridade?

A ocasião?

O empobrecimento do linguajar de um povo que pouco lê?

Os Meios de Comunicação?

Bem ou mal, substituem amiúde as palavras necessárias a um diálogo minimamente compreensível e esclarecedor.

Apesar dos pesares, têm uma vantagem: permitem um rápido entendimento entre o emissor e o receptor;

diminuem o tempo do discurso, não há necessidade de se preocupar com sinonímias,

ou se magoará ou ofenderá o outro pela consequente pobreza de linguagem.

São todas feitas, dizem muito com tão pouco:

somente pela entonação do sujeito, sua linguagem corporal e no contexto em que é dito.

Mas o emissor normalmente tem a preocupação em se fazer compreendido;

por isso mantém o contato visual e verbal, utilizando-se novamente de palinfrasias,

como o "tá ligado?", "tá entendendo?" que funcionam, a bem da verdade, para a manutenção da conversação ou como vírgulas na voz.

Somos bombardeados por elas, e ouvindo-as, tornam-se tão corriqueiras que as assimilamos por "osmose".

E todos os países as possuem.

Na Espanha a mais comum é o "Vale";

em vários países sul-americanos de Língua Cervantina, a mais utilizada é o "Listo".

Aos norte-americanos é o famigerado "OK", copiado (como sempre) por nós, brasileiros.

Ainda bem que os prefixos "hiper-super" não sobreviveram.

Morreram na boca das modelos (de quê?) super-poderosas.

Por algum tempo pensei estar com problemas psicológicos, pois não via nada de "super" ou "hiper" nas opiniões delas.

Os "Galera", "Ninguém merece", "Irado", "Bárbaro" e "entendeu?" são a bola da vez.

Quem pode dizer que o uso mórbido e exagerado de frases e expressões prontas está errado?

Ninguém.

Afinal o latim que sobreviveu foi o vulgar, o do povão, e não o culto.

Taí o resultado, uma das raízes da nossa Língua.

O errado sou eu, que sou um chato de carteirinha.

Daniel Viveiros®/Jun2005