“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

Rigoberto, popularmente conhecido e reconhecido por Rigo vence a todos pelo cansaço com a sua tranquilidade. É a calma personificada em forma humana. Prestes a ser pai do segundo filho com Clotilde. Rigo tem uma dificuldade na fala devido à abertura na região do lábio ou palato, e, por isso, é um homem de pouquíssimas palavras.

O que lhe falta em palavras sobra numa das suas manias, a de colecionar orquídeas, possui uma enorme variedade de espécies, e , conhece uma por uma pelo nome científico, complicado, mas, ele reconhece cada uma. O quintal da sua casa tornou-se pequeno para comportar sua coleção.

Dia desses, eu, o vi armando um viveiro para suas flores no alto da casa ao lado da caixa d’água. Devagar... ele batia cada ripa de bambu para fazer a cobertura do viveiro, naquela calma de fazer inveja a qualquer quelônio.

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

Ali no alto da escada nesse martelar constante e vagaroso, ele ficou por horas. Até que um som agudo interrompe o tec,tec,tec,,, do seu martelar.

“Rigobertooooooooooooooooooooooooo. Eu não agüento mais! Eu ,vou me mataaaaaaaaaaaaar. Eu quero morrer. Não agüento mais!”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

O grito da Clotilde nesta segunda vez, estreme até as vidraças... demonstra uma alteração ainda maior na sua alta freqüência ocasionando um mal estar para a audição humana.

“Rigobertooooooooooooooooooooooooo, eu quero morrer! Não agüento mais! Eu vou me matar!”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Você não fala nada, homem de Deus! Eu vou me matar!”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Clõõõ, vã nã cõzinha e pegue ûm cãpo dê água.”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Eu trouxe o copo d’água, Rigobertooooooooo! “

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Vã nõ ãrmario dõ bãñhêiro e pêgue um põte branco!”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Está aqui o pote. Rigobertooooooooo, o que você vai fazer com ele?!”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Êsqueci dê pêdir ûma cõlher!”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

Clotilde volta com a colher.

“Rigobertooooooooooooooo... eu trouxe a colher. O que você vai fazer agora!”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Êu nããão mûlher. Põnhã umã colher no copo d’águã e bebã!”

“Como!? O que é isso?”

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”

“Võcê nãõ quêr mõrrer ! Issõ é veneno de rãto! “

“Tec,tec, tec, tec, tec, tec, tec…”