A sertaneja

Tangida pela saudade, pego carona no voo da "Asa Branca", e ao "Reino das Esporas", volto. E, neste amanhecer, no alto desta Serra

respiro fundo e, abro os braços para o passado. De passo leve, caminho pelo ventre seco dos açudes, imaginando que, se por acaso, aqui, ainda restar um pouco d´água, com certeza, com medo do sol inclemente, a água assustada, se enconde, agora, no fundo das cacimbas.

A sertaneja, é filha do Sol. que a terra incendeia e racha. A sertaneja, é mulher-guerreira, de fala compassada e mansa que, tem tudo haver, com a genética herança do "Rei Sol" que, todo cair de tarde se esgueirando vai, pelas encostas das serras que o meu sertão contorna, deixando a mostra toda esta beleza. È ali, naquele árido colchão de pedras, que o " Rei Sol" se esconde, se deita e adormece. nos braços, das mais cintilantes estrelas, que há no céu mais belo, do planeta Terra.

E, por incrível que pareça, o "Rei Sol", em toda sua imponência e grandeza, docilmente, se rende a Lua, " Rainha das noites do meu sertão" e, o seu brilho, mais suave e leve, gentilmente, ao nosso satélite, empresta. E a lua, com sua luz prateada e bela, vai encantando a alma da mulher sertaneja, que vive intensamente o seu sonhar, o seu amar, sua alegria, seu sofrer e felicidade, assim, cometidamente, sem fazer alarde.

A sertaneja, vive a vida de esperanças, da memoria dos antepassados, lembrados nos quadros e retratos nas paredes do casarão expostos, por respeito, amor e gratidão. São relíquias sagradas que, todos os dias, nas redes armadas pela sua infância, adolescência e juventude, permanecem estendidas, acolhendo lembranças, que pelos alpendres da vida, vão embalando sonhos dourados, mesmo, no contra-ponto da dura realidade que as rodeia, pela vida afora. E, nos braços de sua alma. a mulher sertaneja acolhe e carrega amor. Assim, segue adiante, sem registrar Queixa ou fazer BO, mesmo contra o poderoso, inconsequente, ditador- escravocrata... o Senhor, " Destino."

E, este amor, a sertaneja leva consigo, para onde for. Amor que tem a beleza solitária das serras, as raízes profundas do Jequitibá e, o doce mistério do silencio da terra que celebra a mágica do amar, sob as caricias dos ventos quentes do oeste, em juras de amor fazendo pousada na copa dos Juazeiros, nos galhos da Oiticica, cantando a aleluia desse amor que lhe adoça a vida, em seus mistérios, guardando segredos que só o amor por amor entende.

Agora, chega o instante de rasgar o véu, quebrar barreiras, sem se importar com as lagrimas que lhe embasam seus olhos castanhos brilhantes. Com o coração nas mãos, a sertaneja, sabe esperar esperando com o olhar fixo, nos limites da amplidão, vai correr o mundo em busca dos seus sonhos, que vão muito além dessas terras e serras, quem sabe, os encontre, e os abrace, lá. bem longe e muito além. E, mais das vezes, adotando outras terras, como se fora parte integrante de sua amada gleba sertaneja, vai acarinhando, assim, também no seu grande e nobre coração, uma cidade até então desconhecida que, bravamente avança ao encontro de uma bela e extensa beira-de-mar, e uma linda Praia que recebe o nome de " Praia do Cabo Branco."

E assim, um dia a sertaneja saiu ganhado as estradas da vida, com tanta tenacidade e tamanha obstinação, que o seu sonhar impossível, se faz realidade.

Por isto, tanta luz em seu viver.Por isto, este orgulho manso e a cabeça levemente erguida. Por isto, toda esta emoção contida. Por isso tanta entrega, tanto amor e tanta vida. Esta é, modestamente, a mulher Sertaneja.

Josenete Dantas
Enviado por Josenete Dantas em 14/02/2013
Reeditado em 11/01/2018
Código do texto: T4139765
Classificação de conteúdo: seguro