Um papa no xadrez


                        ... Et super hanc petram aedificabo
                        ecclesiam meam. 
                                             Jesus Cristo

     Andei lendo, que Bento 16, antes de formalizar sua renúncia, rezou diante do túmulo ou das relíquias do Papa Celestino V. 
     Afinal, o que o teria levado a prostrar-se diante dos restos mortais de um papa que governou a Igreja Católica no ano de 1294?

     A imprensa mundial, religiosa e leiga, vem afirmando que Bento 16, nessa rápida e discreta peregrinação, teria pedido ao Papa Celestino V a força necessária para se afastar do trono petrino.

     Não um afastamento temporário; um, eu vou ali e volto já; um, até logo mais; um, eu vou me tratar e volto. Um antigo provérbio romano diz que "o papa nunca está doente até que morra." O afastamento seria definitivo, irrevogável.

     Nunca mais a férula papal; o anel do Pescador; e se fosse em outros tempos, a imponente tiara e a sedes gestatoria, aquele trono portátil no qual o Pontífice era levado pra lá e pra cá, nas suas aparições públicas. 

     Mas por que Celestino V? 
     Não é mais novidade que esse papa também renunciou ao papado. Passou pouco tempo no comando da Igreja Católica: apenas oito meses. 

     Lendo "O Livro de Ouro dos Papas", vi lá que antes de ser papa, Celestino V era "um homem santo - de fato um eremita -, que parecia personificar as aspirações espirituais do século", o século13, posto que, eleito em julho de 1294.

     O texto sobre o afastamento voluntário (?)  de Celestino V diz claramente que sua renúncia se tornara inevitável, "supostamente por determinação do seu sucessor", Bonifácio VIII, da família Caetani. 
     Fora responsável pela sua queda o cardeal Benedicto Caetani, parente próximo de Bonifácio.
    Celestino V nunca revelou os motivos que o levaram a renunciar o trono de São Pedro. 

     A pergunta, agora, é esta: teria acontecido, mutatis mutandi,  com o nosso Bento "coisas" semelhantes às que obrigaram Celestino V a deixar o governo da Igreja Romana?  
     Não sei se o Joseph Ratzinger - não o Bento 16 -, ficará calado para sempre. Quem sabe se, nas suas memórias póstumas, ele não conta tudo... além do que tem dado a entender sobre seu afastamento, nos seus últimos pronunciamentos como Pontifex Maximus. 

     Graças a Deus, os tempos são outros. O papa que se despede jamais passará pelo constrangimento ao qual foi submetido Celestino V, "mantido sob custódia, morrendo na prisão em 1296."

     O seu recolhimento se dará, sponte sua, a uma silenciosa clausura, em cujos claustros ele há de cumprir o que disse ao clero romano, ao se despedir de sua Diocese: 
     "Mesmo me retirando para a oração, eu vou estar perto de todos vocês e tenho certeza de que vocês vão estar perto de mim, mesmo se eu fica escondido para o mundo."

     Independente de sua origem geográfica, o que se espera do sucessor de Bento 16 é que modernize a Igreja Católica Apostólica Romana.
Se tal não acontecer, a barca de Pedro - que parece estar, no momento, à deriva -, soçobrará inevitavelmente.

     Para terminar. Conta-se, que na sucessão do grande Leão 13, um dos cardeais que participou da eleição do novo papa se destacou dos demais quando resmungou: "Elegemos um Santo Padre, e não um Padre Eterno."  
     Pensem nisso os senhores cardeais antes de se trancarem na belíssima Capela Sistina, no mais importante Conclave da era moderna.

      
    
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 15/02/2013
Reeditado em 22/10/2020
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