Papa Pós-tradicionalista

O adeus do Papa ao critério forçoso das convicções da casa é um dos momentos mais iluminados de Ratzinger. Sua maturidade plena, seu retorno ao mundo da condição humana sem divindades. Só o lamento abandonado de Cristo na cruz se iguala ao gesto de Ratzinger.

Começa assim o grande homem que a história jamais esquecerá: o homem feito de recusa. Mas o que está recusando? Na verdade nesta recusa mora o direito pleno da vontade (normal aos demais seres humanos) diante da sensibilidade maior, porque na idade em que se encontra ser forçado a condição mítica de admiração, fanatismo e fé cega, deve ser realmente fastidiosa aura.

Sua representação acabou como os últimos lamentos de Salvador Dali que gemia: não quero mais ser Dali. Salvo das representações tem-se o homem.

Começa assim a grande manifestação de humildade em seu soberano humanismo. O menino Ratzinger agora louva sua decisão como a de um homem que pode mudar a história contra a meninice que se viu investida da hipnose coletiva do nazismo. Pode escolher agora e o fez com grandeza digna apenas dos grandes homens que iluminaram esta pobre humanidade escravizada pela cobiça e pelo desejo de poder.

É o tempo de compreender a “teocrasia” em suas manifestações históricas. Iluminar o homem comum da sua frágil condição de crente sonhador, fenômeno tão explorado por todas as manifestações religiosas. Essa essência de mudança é a alma que move a humanidade. Ratzinger passa então a ícone do pós-tradicionalismo. Essa evidência teórica nascida no seio do Rio Grande do Sul foi exigida pelas mentes mais brilhantes e sufocadas pela intransigente fonte de mesmice do passado dilacerante, tido como glorioso, sobretudo totalmente romantizado. Elementos que produzem lideranças fanáticas e robóticas em todo o repetido infantilismo. Lembrando as paradas militares da Coréia do Norte, além de toda sorte de terrorismo semeado na repetição de padrões tribais descontextualizados do pleno desenvolvimento.

Para se salvar a vida precisamos todos nós da ciência, pois é ela quem salva e, assim, leva-se o povo comum à visão da luz onde só existe obscurantismo religioso. A renúncia do papa serve para que a humanidade comece a rever os conceitos religiosos, posturas que entravam o desenvolvimento pacífico das sociedades. A tradição é o fracasso. A liderança absoluta, tirania. Viva Ratzinger! Chega de proibir moralmente quando só é preciso educar.

Viva o pós-tradicionalismo!

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