OBRIGADO, MESTRA QUERIDA!

Todos têm um mentor, um mestre, alguém para seguir como exemplo, admirar e inspirar-se. Alguém disposto a nos ensinar coisas boas que jamais esqueceremos. No meu caso, trata-se de uma mestra, a jornalista e professora de Português do curso de Jornalismo. A mestra paciente ao ouvir o foca aflito e angustiado que um dia fui, e que sabia, apenas, emendar frases no texto. Mas queria aprender a redigir, decentemente, crônicas como essa.

Lembro do primeiro dia de aula, exercício simples: entrevistar o colega do lado e escrever texto com as informações apuradas. O texto redigido serviria de parâmetro para a mestra escolher o melhor método a ser utilizado para identificar nossos problemas com a Língua Portuguesa e sana-los. Foi exatamente nesse dia que descobri, como disse no começo do texto, a horrível mania de emendar frases, que mais tarde me fez dar boas risadas. A sensação de ter descoberto tamanha deficiência não foi das melhores, é verdade, mas me impulsionou a melhorar. Várias vezes fiquei até depois do final da aula, “pentelhando” a mestra, pedindo-lhe indicações de livros e ajuda para aprimorar a forma como eu escrevia. Porém o processo foi doloroso.

A cada texto corrigido, minhas forças pareciam cessar. Nunca escreveria corretamente, pois o ato exige dom nato, e não apenas técnica, pensava. Quase desisti. Queixava-me, estava cada vez mais difícil escrever. Como se eu estivesse no primeiro ano, lembro das palavras da mestra diante de minha aflição: “Ninguém falou que ia ser fácil, Henrique”. Sendo assim, mergulhei, de cabeça, na leitura. Li várias obras, muitas indicadas por ela. E enquanto desenvolvia minha escrita, por meio de leitura e prática, a angústia tomava conta de mim, cada vez mais dúvidas apareciam, quase enlouqueci.

Certo dia, embora já me virasse em juntar as palavras, redigi texto porco, sem coesão nenhuma, em uma prova. Minha nota caiu consideravelmente. Mas não me importava com notas. Queria mesmo aprender a escrever. Mesmo assim fiquei triste. Quando recebi a correção, minha mestra se mostrou espantada. Nas considerações feitas no rodapé da prova, ela perguntava o que havia acontecido. No dia seguinte refiz o texto e mostrei a ela. Corrigiu na minha frente, demonstrou ter gostado, mas fez algumas anotações. Outra vez fiquei desesperado. Quando pensava que não mais veria observações feitas nos textos, vinha um balde de água fria para acabar com minha alegria.

Ela era muito severa. Certa vez enumerou, na lousa, os “erros crassos” (era assim que chamava os deslizes cometidos por nós, aspirantes a jornalistas, assassinos da Língua Portuguesa) que encontrou em todos os textos, para corrigi-los em público. Uma espécie de tribunal, acerto de contas, julgamento, embora não citasse os autores das pérolas. E até nos tratava como profissionais, exigindo que não mais cometêssemos tamanhas falhas. “Se, no próximo texto que eu corrigir, aparecer alguma frase na qual o sujeito esteja separado do verbo com vírgula, farei um furo, com a caneta, no papel. Já falei inúmeras vezes que isso e inconcebível”. Assim era ela: brava e, ao mesmo tempo, meiga e prestativa. Sempre disposta a discutir a correção dos textos, se por acaso tivesse cometido algum erro. Ou simplesmente para nos ajudar a melhorar, como muitas vezes fez comigo. Usava, também, o tal do “esqueleto”. Algo como mini projeto de idéias a serem desenvolvidas na dissertação, para nos orientar a escreve-la de maneira coesa, com começo, meio e fim. E mesclava debates a regras e técnicas jornalísticas, fazendo, dessa forma, o curso ficar mais agradável.

Acostumado a receber elogios, certa vez ouvi dela: “Não gostei do seu texto, tem erros de português, está meio confuso e, além do mais, não existe crase antes de palavra masculina”. Ela estava brava quando fez a observação. Fiquei arrasado. Mas toda essa severidade, aliada à prestatividade, boa vontade e paciência, me fez crescer e aprender muita coisa. Se eu ficasse bravo com ela, e não ouvisse o que tinha pra me dizer, não estaria aqui, hoje, contando essa passagem de minha vida usando minha ferramenta de trabalho: a escrita.

Hoje ela não é mais jornalista, mas para mim sempre será. Mais do que isso, eternamente será minha mestra. Aquela que indicou-me livros, ajudou-me a melhorar os textos, acreditou em mim ao me indicar para o meu primeiro estágio. Não o bastante, foi a primeira pessoa a dizer que tenho talento, não devo desistir. Sua severidade e competência no papel de professora ficarão marcadas. No mais, sempre terá minha gratidão, jamais a esquecerei.

Todas as vezes em que a vejo, toco nesse assunto. Ela fica meio sem graça, envergonhada até, eu diria. Mas nunca deixarei de expressar o quanto sou grato. Talvez, um dia, eu abandone o jornalismo e vá fazer contas, projetos gráficos ou coisa que o valha. Não sei ao certo o que acontecerá comigo. Mas nunca esquecerei o que ela fez por mim. Obrigado por tudo, mestra querida. Sucesso e paz. De seu eterno foca.