O ABRAÇO JAMAIS ESQUECIDO

Nossa! Como ela está linda! Mesmo com os olhos irritados e vermelhos e a face encharcada de lágrimas, continua bela. Está tão sublime e doce como quando nos encontramos pela primeira vez. Nossa! Quanto tempo! E hoje a tenho em meus braços outra vez, perto de meu coração ferido e cansado; desacreditado; calejado. É tão bom sentir seu calor e perfume novamente... Passaram-se cinco anos! Mas por que me deixou por um que a faz chorar e, de certa forma, voltar pra mim?

Nem acreditei quando a vi no Café que foi palco de tantas declarações que fiz, olhando bem no fundo de seus olhos, segurando suas mãos delicadas de fada. Puxa! Quantos momentos lindos! Lá estava ela, olhando para o capuccino, como se estivesse esperando-me por toda a eternidade; os olhos marejados, cabelo levemente despenteado, olhar ao longe buscando algo ou alguém. Sim! Esperava-me! Buscava a mim! Será?!

Que abraço gostoso recebi; inesperado, de supetão, mas muito gostoso! Quase me derrubou tão logo entrei no estabelecimento e não consegui ter reação alguma, a não ser acalmá-la em meus braços e sentir seu cheiro, que durante nossos 15 anos de casados confundiu-se com o meu, tornando-se um só. O que o desgraçado havia feito com minha amada? O capuccino esfriara e as pessoas no local pareciam terem se surpreendido com a cena, mas nada disseram, embora quisessem, porém não conseguiram dizer, nem podiam, era o meu momento.

Ai, Deus, daria tudo para tê-la novamente. A única que amei com toda minha alma. Ai, minha amada, fique assim, afugentada em meus braços por toda a vida. Não percebe que te esperei todo esse tempo? As pessoas já não nos olhavam mais, haviam nos esquecido, só restavam ela, eu e o meu mundo de esperança. Abraçou-me forte. Tentei dizer que não suporto viver sem ela, que minhas noites têm sido monótonas, que minha vida há muito perdera a cor... Não pude. O momento não permitiu. Só queria contemplá-lo o tempo que durasse.

Então nos sentamos, pedi outro capuccino e a vi tomá-lo sem pressa, já mais calma, arrumando os cabelos. Seu rosto, ainda assustado, mostrava toda a graciosidade que nunca perdera, as lágrimas haviam secado. Queria perguntar o que havia acontecido, e como se tivesse lido meu pensamento mais profundo, começou a falar calmamente. Mauro há dias chegava bêbado e batia nela, mas passado o efeito do álcool, jurava não levantar mais a mão a minha amada, jurava que o ocorrido não aconteceria de novo.

O que fazer? Foi ela quem decidiu deixar-me. Alegou ter sido acometida por paixão fulminante, dessas que nos fazem largar tudo, até um casamento de 15 anos. Que coisa! Eu era tão dedicado e carinhoso! O que faltou? Ela precisava desabafar, me encontrou por acaso e assim o fez. Ai que vontade de dizer que havia perdoado tudo, sempre a perdoei, sempre a esperei... O celular tocou.

Mauro queria reparar seu erro. Havia feito reserva num dos melhores restaurantes da região. E ainda dizia que uma surpresa a esperava. O rosto de minha amada iluminou-se. Havia uma esperança. Afinal Mauro não era homem mau. Fazia as vezes de pai de minha filha de 6 anos e dava muito amor a minha amada, pelo menos foi o que ela disse. Tinha carreira promissora na agência de publicidade. Minha adorada e minha pequena teriam conforto com ele. Ela precisava ficar com o sujeito, já não me amava mais, embora eu a amasse com tudo que podia.

Perguntou de meus livros. Sempre dissera que tenho talento para escrever e daria certo na carreira literária. De fato estava dando certo mesmo, só faltava ela e minha filha ao meu lado. Percebi que estava disposta a continuar com Mauro, sua paixão avassaladora. Certa vez falara que por uma paixão verdadeira valeria qualquer sacrifício. Nunca aceitou a idéia de frustrar-se no terreno sentimental.

O capuccino pela metade, levantou-se vagarosamente e me agradeceu por ter passado o tempo com ela, ajudando-a a relaxar e ficar mais calma. Beijou-me no rosto e disse que há muito não lembrava o quanto era gostoso um abraço meu, mas a escolha já tinha sido feita, era preciso seguir. Por dentro eu disse que sempre a esperarei. Nos despedimos. E sem que percebesse, coloquei meu cartão no bolso de seu tailler. Na verdade ela sempre teve o número de meu telefone, mas com certeza entenderá o gesto. Aqui estou, aflito, aguardando seu telefonema para tomarmos um café qualquer dia desses e finalmente ouvir de sua boca que aceita voltar para mim. Ai, que abraço gostoso! Quanta falta você me faz, minha amada querida!