OUTRO ADEUS

Hoje não tenho mais aquela tristonha impressão de não ter me deixado esquadrinhar. De não ter sido legível; decifrável; perfeitamente notório, nos contornos de minhas emoções. Desta vez, tenho certeza de que me lancei nas ondas do oceano revolto, sem nenhuma tempestade pessoal. Tirei todos os panos, mostrei minh´alma inteiramente nua, e também meu corpo... derrubei cada muro; cada segredo; nada ficou velado.

Se me calo de novo e retrocedo, se volto a me fechar no meu mundo e sair do seu alcance, agora venho leve... sinto-me completo e perdoado, certamente não por você, bem sei que não, mas por mim próprio. Sendo assim, este adeus não tem dor... não tem mais. Pode ser tristonho, nostálgico, lamentável pelo que se deixou de viver, mas não doloroso. É que hoje não há remorso. Não há sentimento de culpa. Nem aquela certeza de haver lançado ao vento a sorte que me pertencia e já estava em mãos.

Embora não feliz, estou em paz. É bom voltar a ser meu, me sentir alforriado e ter a velha esperança de ainda sentir um novo afeto. Recompor meu acervo sentimental, para “caçar” de novo. Ser “caçado”. Achar e ser achado nos domínios desta solidão que aprendi a vasculhar como ninguém. Nela me sinto em casa, não tenho pavor do escuro e da sensação de que o vazio embaixo da cama pode me devorar... ainda que possa.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 18/03/2013
Código do texto: T4195089
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