(Publicado no Blog Escrevinhadores em 2006)

          Na adolescência tive a fantástica experiência de encontrar um dos meus maiores ídolos. Frente a frente com Carlos Drummond de Andrade, ficava a me perguntar como aquele homem com jeito de bancário poderia escrever coisas tão fabulosas. E ainda tinha aquela história da pedra que estava no caminho. Foram momentos que eu não esqueci.
          Ontem, eis que o destino me reservou uma outra emoção. Quando cheguei pela manhã ao evento "Poesia Voa" no Circo Voador, eu sentia um frio no estômago. Sabia que finalmente eu encontraria um outro ídolo. O evento realizado pelos grandes poetas Bruno Cattoni e Tavinho Paes, era parte das comemorações cariocas pelos 58 anos da Declaração dos Direitos Humanos. Olhei o circo voador. Mesmo totalmente diferente do que era nos anos 80, ainda consegui me lembrar de momentos memoráveis que vivi ali, na plateia e no palco.
          Num determinado momento Thiago de Mello chega.Todo de branco, todo lindo, todo poesia. Abraçou parentes, amigos, fãs. Veio andando na minha direção e com generosidade me disse:
— Me dê seu livro poeta, quero ver tua poesia.
— Só no ano que vem poeta, o livro sai no ano que vem - respondi atônito.
        Somos interrompidos por uma fã nervosa que diz sentir uma enorme emoção por encontrar o "nosso poeta maior". Thiago sorri e lhe pergunta:
- Já inventaram fita métrica para medir poetas? Como se mede poesia? Tem poeta menor? O Lobone é muito maior que eu, olhe a altura dele.
          Seguiu atendendo a todos com atenção e educação irretocáveis. Em seguida vira-se para mim diz:
- Pegue uma cadeira e sente-se aqui ao meu lado. Vamos tomar um café. Obedeci, claro.
- Você também vai declamar seus poemas aqui hoje? - perguntou.
- Não, não, eu basicamente vim aqui por causa do senhor - respondi.
- O único senhor aqui é o senhor Jesus Cristo. Me chame de você, porque nós somos colegas de ofício, entendeu? Colegas de ofício! - reclamou.
        Continuei obedecendo, claro. Não seria eu que iria contrariá-lo.
        A conversa fluiu amena e volta e meia ele interrompia o papo para atender um dos muitos fãs e "colegas de ofício" presentes. Falou que a sua cidade "Barreirinha" ainda estava no mapa, pois ainda não havia afundado nem tinha sido devorada pelo fogo das queimadas.
          Contou sobre seu período no exílio, sobre sua amizade com Neruda, sobre sua passagem por Cuba e sobre sua certeza de que o imperialismo americano não terá vez na ilha, mesmo depois de uma iminente morte de Fidel Castro, por quem guardava adminração.
          Depois, já no palco, declamou alguns de seus poemas, e encerrou sua apresentação - devidamente acompanhado ao piano pelas moças do belo Duo GisBranco, declamando o seu clássico "Os Estatutos do Homem".
          Como a maioria ali, me emocionei e chorei muito.
          Na sequência do evento, assitimos juntos a exibição de um trecho de um documentário sobre a amazônia, que tras declarações do poeta em seu recanto. Ao fim, prometi-lhe enviar um e-mail contendo links dos meus escritos publicados na internet.
- Faça isso poeta, por favor. Quero ler você... - respondeu antes de ir.
          Que os Deuses da Floresta guardem por muito mais tempo este nosso poeta e pensador, que segue pelo mundo todo de branco, todo lindo, todo poesia.