CADA UM SABE ONDE O SAPATO APERTA.
Por Carlos Sena


 
Todos sabem onde o “sapato aperta”. Muitas vezes o sapato não aperta, mas uma “pedra” atrevida entra dentro dele e nos provoca sérios incômodos. Aguentar uma pedra dentro do sapato não é pra todo mundo, mesmo que a seja uma pequenina pedra, mas os pés na hora rejeitam e a gente tem que retirá-la. Por outro lado, um sapato apertado a gente suporta até chegar a casa ou então, retira o “bicho” e, a despeito da aparente falta de classe, pendura ele no dedo.
Na vida a gente vez por outra se depara com um “sapato apertado”. Pode-se apostar que ele lanceia, ou mesmo dar ele a alguém que não sinta seu aperto. Há quem corte com uma tesoura no local que incomoda, mas todas as alternativas não isentam, num primeiro momento, o processo dolorido do aperto. Nesse viés metafórico, a vida vai se nutrindo de processos interpessoais de ação. Cada pessoa tem seu movimento próprio e seus tempos específicos. Porque o “sapato apertado” que vez por outra a vida nos calça precisa de decisões aliviadoras para que o caminhar seja leve e livre de obstáculos. Contudo, uma “pedra no sapato” carece de mais urgência na sua retirada. É aí que a “porca torce o rabo”, porque a gente pode se encontrar em determinados locais que não nos permitimos ficar descalços, mas será preciso que fiquemos. Porque a vida, em determinadas circunstâncias, requer de nós determinação, mesmo que seja para ficarmos “descalços” como os “pés” na terra quente...
Há um dito popular mais ou menos assim: “já aguentei uma boiada e hoje me engasgo com um mosquito”... É um pouco do momento em que a gente não aguenta nem “pedra no sapato” nem mesmo ele apertado... Porque, aos poucos a gente vai tendo a consciência de que “sapo tem olho grande, mas não sai da lama; rapadura é doce, mas não é mole; o ultimo pingo é sempre na cueca; quem cospe para alto pode melecar o rosto; laranja madura na beira da estrada, tá bichada ou tem marimbondo no pé; o apressado come cru; caranguejo por ser apressado anda de banda; todo mundo quer ir pro céu, mas ninguém quer morrer; à noite todo gato é pardo; gato escaldado tem medo de água fria; as maiores verdades são ditas em forma de galhofa; quanto mais alto o coqueiro maior é a queda”, etc.
Porque o “sapato apertado” da vida precisa, urgentemente se converter em “pisante ortopédico”, ou couro alemão ou mesmo em pelica... “Afinal, gente é pra brilhar não pra morrer de fome”, já nos alertou o Senhor Caetano Veloso.