A política em tempos da era digital

Em tempos de mundo digital, ignorar o ativismo político nas esferas virtuais significa, na prática, reduzirmos a esfera de atuação política para um mero voluntarismo sem precedentes. O uso da internet, de suas ferramentas e das redes sociais como o meio para propagar as ideias políticas e formar a consciência política dos internautas, torna-se imprescindível. Ela pode ser muito bem comparada à visão de um jornal, vista por Vladimir Lênin, na sua clássica obra de 1902 "Que Fazer", no intuito de engajar e direcionar a luta das massas organizadas, tomando consciência da sua condição de classe e, a partir de uma agenda política, criar as condições não só subjetivas, mas objetivas, na construção de uma sociedade mais igual e justa.

Na ausência de dispormos de uma ferramenta que a mídia burguesa dispõe, o ativismo político dos cidadãos, em pleno século XXI, passa a contar também com a internet. Um meio que, se bem utilizado, é capaz de não só aglutinar as pessoas em um projeto de nação e de sociedade, mas até de subverter a ordem constituída. Se ainda não tivemos isso, "agradeçamos" à concepção atomizada de mundo presente na sociedade pós-industrial/pós-moderna.

O ativismo nas redes sociais (como o facebook, o you tube, twitter, orkut e outras ferramentas afins), se exercitada bem, se aproxima (e muito!) da concepção original e inédita de democracia direta preconizada por Jean Jacques Rousseau em "O contrato social" (e que inspiraria mais tarde Karl Marx). Portanto, no momento hodierno, onde o ativismo político do século XXI se ancora na democracia digital, as relações políticas atuais se dão entre Sociedade → Estado → Partidos/Movimentos Sociais e não mais como existia até o final da década de 1980 e prosseguindo, a duras penas, até o fim dos anos 1990, onde a relação política se dava entre Sociedade → Partidos/Movimentos Sociais → Estado, sendo o Partido ou os movimentos sociais os interlocutores privilegiados da sociedade para questionar o Estado, como eu abordei na introdução do artigo "Que Trabalhismo é esse do PDT em pleno século XXI?", em http://www.pdt.org.br/index.php/noticias/que-trabalhismo-e-esse-do-pdt-em-pleno-seculo-xxi.

Quem não compreender esta dinâmica e não se preparar política e ideologicamente para tal realidade inexorável, está prestes a sumir do mapa político. Em outras palavras: não logrará sequer a legitimidade dos demais condidadãos. Queiramos ou não aceitar, a título de ilustração, o êxito do PT, em grande medida, se daria não apenas com os erros de outras legendas políticas de esquerda ou afins, mas se daria principalmente (na concepção mais gramsciana possível, a partir da velha e conhecida "Teoria da Hegemonia") com a inserção dos seus "intelectuais orgânicos", no seio de sua militância, na esfera digital - sabedores da falência dos movimentos sociais, com a perca gradual de sua representatividade junto à população.

Enfim... como diria um adágio popular, "quem viver, verá."