Neototalitarismo, a doença infantil do século XXI

O patrulhismo nos dias atuais, em tempos de "big brotherismo", nada mais é que uma forma de totalitarismo branco.

Este tipo novo de totalitarismo, em tempos pós-modernos, surge de forma sutil. Uma forma que, por vezes, só quem tem uma visão aguçada de mundo consegue enxergar - às vezes, por trás de práticas ou asserções aparentemente inofensivas.

Não é apenas a ditadura velada do "politicamente correto", onde a opinião burra tenta tolher os que, com opinião formada, expõe seus pontos de mundo - independente da concepção de direita ou de esquerda do indivíduo e do seu respectivo projeto de sociedade.

O neototalitarismo - se é que poderíamos colocar um novo neologismo para defini-la - é explicado a partir, talvez, de ilustrações, por vezes, históricas, com o devido colorido para se fazer entendido pelos demais que, sem a abstração teórica, não conseguem enxergar a realidade que os cerca.

O neototalitarismo do século XXI, diferente do totalitarismo das décadas de 1930 e 1940, não se apresenta fardado com os uniformes da SS, da SA e dos Camisas Negras, em meio a todo o seu aparato policial. Porém, o neototalitarismo se achega de forma sutil e, por vezes, despercebida de nós. Pior: às vezes, somos nós que praticamos involuntariamente, por força do hábito. Nos mediocrizamos perversamente por conta de tal prática fomentada por terceiros cotidianamente, bombardeando-nos com uma imaturidade sem precedentes.

Enfim, o neototalitarismo se dá, muitas vezes, com o patrulhismo que fazemos da vida alheia, nas redes sociais, em um "big brotherismo" sem precedentes. Em tempos de uma sociedade extremamente individualista e atomizada, o entretenimento das pessoas, à frente da tela dos seus respectivos computadores, notebooks, tablets e iphones, passa a ser as ações e atividades de terceiros, em uma autêntica publicização da vida privada.

Assim, não nos pertencemos mais a nós, como nos tempos de outrora. Hoje somos vistos (para o bem e para o mal). E por conta de uma visão tacanha de pessoas que não se dão ao trabalho para preencher o seu tempo em leituras, atividades culturais, esportivas ou afins, o mundo virtual nas respectivas redes sociais se torna, na prática, um revistão em aberto de fofocas por excelência.

Somos não só produto, mas reflexo de uma era sem produção filosófica representativa ou da pobreza de conteúdo acadêmico. Por conta disso, sujeitamo-nos a nos tornar, na prática, pessoas aprisionadas em visões passionais, imbecilizantes e limitadas do cotidiano que nos cerca. Pior: somos influenciados por gente (até mesmo com certo nível "cultural" ou de "intelectualidade") que, ao invés de contribuir ou de se engajar com debates sérios na análise do cotidiano ou até mesmo na construção diária de sua consciência política, se resume a patrulhar "a", "b" ou "c", sem ao menos olhar a sociedade em sua volta. Olham para a vida dos outros e as "interpretam" (se é que "codificar" seria a palavra correta...) em sua visão turva e inócua de mundo, sem se preocuparem a fundo com o mundo a sua volta - nem ao menos, no microcosmo de seu cotidiano. Usam de seu tempo para patrulhar as pessoas e criar intrigas voluntárias - muitas delas, sem fundamentos -, mas não utilizam-se deste precioso momento para transformar a sociedade, ainda que, a partir do seu cotidiano. Até porque, como creio piamente no famoso verso da canção "Sal da terra" de Beto Guedes, "um mais um é sempre mais que dois".

Enquanto isso, uma minoria detentora do poder econômico, político e cultural agradece e incentiva a fundo a cultura do extremo individualismo e do patrulhismo, promovida pelo "neototalitarismo". Principalmente, na concepção mais gramsciana possível, da hegemonia da mídia burguesa, ao introjetar a cultura "bigbrotheriana" para jogar brasileiros contra brasileiros - muitas vezes, por motivos fúteis ou banais. E nós tomamos para si esse papel tacanho, nos tornando não só indignos da história de lutas de nosso povo, mas indignos de nós mesmos. Sobretudo, nos apequenando.

Melancólico requiém.

Se todos desssem um basta nesse neototalitarismo, romperíamos com a cultura vigente nas redes sociais, ridicularizando os "censores" informais do DOI-CODI, em seu gratuitismo, e a sua prática.

Voltaríamos a ser gente. Ser humano em toda a sua plenitude!

Ao menos, o nazi-fascismo tinha uma doutrina totalitária.

Já o neototalitarismo é desprovido de doutrina. Mas é farto e pródigo de práticas afins.

Sem dúvidas, são estas práticas voluntaristas e imbecilizadoras de nossa sociedade, que teremos de superar...

Por vezes, cortando a nossa própria carne.

Wendel Pinheiro
Enviado por Wendel Pinheiro em 05/06/2013
Código do texto: T4326304
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