Papa Francisco e seu surrão

     Devotos do santo seráfico, meus pais, na pia batismal, deram-me o nome de Francisco.  E desse santo extraordinário me tornei seu fã. Confesso: não fosse minha cegueira por mulheres (!), hoje eu seria um franciscano. No momento certo, conclui que não podia desmoralizar o burel desrespeitando o celibato.
     Saí do seminário, mas nunca deixei de buscar amparo e abrigo nos braços do santo de Assis. Estou sempre a procurá-lo. E não apenas nos momentos de turbulência; procuro-o, também, quando tudo corre bem no meu dia a dia.
     Pela minha casa há imagens dele espalhadas em tudo quanto é canto; e nas minhas estantes, livros sobre ele os tenho pra valer.
     
     No dia 13 de março de 2013 o Conclave - talvez o mais importante dos tempos modernos - elegeu o sucessor de Bento 16, que, surpreendendo, renunciara a cátedra petrina. 
     Amigos que sabiam da minha velha e declarada paixão pelo Poverello, anunciada a decisão do papa eleito de se chamar Francisco, imediatamente me telefonaram. E, de quase todos, ouvi: "Me lembrei de você!"
     Claro que essa inesperada e generosa lembrança de amigos tão diletos envaideceu-me à beça. E num momento de saudade e reconhecimento, agradeci aos meus pais pelo belíssimo nome que me haviam dado: Chico.

     Eis que o Papa Francisco está no Brasil. Ouvi alguns de seus pronunciamentos e li matérias que os jornais estão publicando sobre sua histórica visita à Terra da Santa Cruz.
     Constato, que declarações sobre a política interna do Brasil, ele não as fez: é o Chefe de Estado. Tem se limitado a falar aos jovens que, no Rio de Janeiro, participam, aos milhares, da Jornada Mundial da Juventude: é o Pastor.  Mas não duvido que ele, olhando pros brasileiros, tenha rezado a Oração de São Francisco.

     Fala-se muito na humildade do Papa Francisco.
     Prefiro, porém, pôr em destaque a sua simplicidade. Simplicidade franciscana que mostrou, por exemplo, no momento em que embarcava no avião que o trouxe ao Brasil: ele subiu as escadas da aeronave, não sei se todos notaram, carregando, em uma das mãos, sua pastinha preta, dispensando a ajuda de seus auxiliares mais próximos. 
     Vendo-o carregando sua "mochila", lembrei-me desses versos do Vinicius de Moraes, que sempre achei também fora uma devoto de Francisco de Assis: 
 
     "Lá vai São Francisco/ De pé no chão/ Levando nada/ No seu surrão/ Dizendo ao vento/ Bom dia, amigo/ Dizendo ao foto/ Saúde, irmão."

     Procurei, nos jornais que estão sobre minha mesa, quem, até agora, melhor teria definido o Papa Francisco. Em longa entrevista dada ao Jornal O Globo, sobre o Pontífice Bergoglio, disse o ex-franciscano e respeitado teólogo  Leonardo Boff: "Ele renova a imagem do papa. Não a dessacraliza. Dá à Igreja um contorno que é mais conforme a São Francisco, Pedro e Jesus." Excelente! Ele não diria isso se referindo ao Emérito Bento 16 e nem ao beato Karol Woijtyla.

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 24/07/2013
Reeditado em 25/07/2013
Código do texto: T4402567
Classificação de conteúdo: seguro