Do que mais gostei


           Foram muitas as igrejas que conheci, percorrendo, recentemente, o interior de Minas Gerais. 
          São, de fato, belíssimos os templos católicos de Diamantina, de Ouro Preto, de Congonhas, de Tiradentes, de Mariana e da pequenina Sabará.
          Há muito ouro (e significativos afrescos) nessas igrejas, merecendo destaque a matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto. 
          No seu embelezamento, garantem os pesquisadores, foram gastos nada menos de "450 quilos entre ouro e prata". 
          Os templos, na sua maioria, mostram a exuberante arte do extraordinário Aleijadinho e a pintura fantástica do inigualável mestre Atahíde; como a que se vê no teto da igreja franciscana de Ouro Preto, retratando, de maneira esplendorosa, a Assunção de Nossa Senhora. É de arrepiar.
          Em quase todas essas cidades - as famosas Cidades Históricas de Minas -, há uma grande igreja, uma capela, ou um modesto altar lembrando São Francisco de Assis.  Impressionante como em terras tão ricas se homenageou tanto o Pobrezinho de Assis.
          Como um cara ligado em São Francisco, minha atenção voltou-se, até exageradamente, para as igrejas seráficas. Quase entrava em êxtase quando, em São João Del Rei, visitava a igreja do Poverello, que guarda, no seu cemitério, o mausoléu do doutor Tancredo.
          Pena não ter podido admirar o seu altar-mor, parcialmente coberto pela cortina roxa da Quaresma.
          Contentei-me em vê-lo no cartão-postal que comprei em uma lojinha de souvenirs.
          Cada igreja tem a sua história. 
          Não estivesse subordinado ao relógio do guia, e teria ficado, indefinidamente, ouvindo alguém contar os segredos de cada uma delas.
           Como os que envolvem a igrejinha de Nossa Senhora do Ó, em Sabará, exibindo, no seu minúsculo altar doirado, a imagem de Maria Santíssima grávida.
           Nunca houvera visto a Mãe do Senhor esperando neném... Emocionei-me.
          Morando na Salvador de belas e ricas igrejas, pensava que as igrejas de Minas não me chamariam a atenção.
          Achava, que depois da igreja de São Francisco, no Terreiro de Jesus, da igreja da Conceição da Praia, e da basílica do Senhor do Bonfim, igrejas mais bonitas não deveriam existir. 
          Enganei-me. Existem, sim; em Minas.
          Mas nesse périplo, do que, afinal, mais gostei?
          Pode parecer uma imensurável bobagem, mas foi do púlpito da igreja de São Francisco, em Ouro Preto.
          Sou do tempo em que os padres falavam às suas ovelhas dos púlpitos erguidos no meio das igrejas. O pregador, postado em lugar de destaque, na sua humilias, ficava mais perto dos seus paroquianos. 
         A ternura e segurança dos sermões, pronunciados quase ao ouvido de cada fiel, deixavam estampado no  rosto de todos eles uma indisfarsável alegria e uma imensa esperança.
           Na igreja franciscana de Ouro Preto, Aleijadinho, rompendo secular tradição, colocou o púlpito - pasmem! - ao lado do altar-mor; no espaço, portanto, onde somente os ricaços da antiga capital mineira assistiam missas.
          Queria Alejadinho - é esta a versão histórica - que a mensagem do Poverello atingisse em cheio e sem rodeios a consciência dos apatacados da aristocrática Vila Rica. 
          Um pequeno detalhe arquitetônico mas, para a época, de insondável alcance social, político e religioso.
          Não gostei quando fui informado de que Antônio Francisco Lisboa não havia sido enterrado em uma igreja franciscana. Seu mausoléu, simples mas eloqüente,  encontra-se no interior da igreja de Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Ouro Preto.
          Acredito, porém, que se o céu existir, devem ser freqüentes e animados os encontros do humilde Aleijadinho com Francisco de Assis.





    


 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 07/04/2007
Reeditado em 29/12/2020
Código do texto: T441184
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