Mentes azedas

Acabo o dia com uma devolução azeda. O que havia naquela bobagem era de fundo insólito: Esforce-se mais! No fundo se parecia com apenas uma frase horrível. Nada gramático, nem sei coisa alguma de gramática Admiro quem sabe mais do que posso conhecer em meu próprio caminho. Para mim o melhor era escrever “esforçar-se mais!”. Minha ignorância gramatical carimbou um “erro de concordância verbal!” no texto. Meu Deus! Para piorar bati pé de que era um negócio chamado de “caconofina”, pode ser, quando queria mesmo dizer “cacofonia”? Vixe. O idioma nacional é antes aquele se entende.

Há sempre especialistas dispostos a firmar sua opinião com o selo da experimentada técnica. O que é a banalidade para o erudito? Devemos percorrer caminhos ásperos para adquirir todo o conhecimento de uma só tacada. Sendo improvável ficamos então com o breve soluço abstrato. Enforque-se é resposta de mente azeda. Esforce-se mais! Com os diabos. Quem nunca ouviu isto? Só um demente desconhece. Com essas letras minha preguiça jamais foi surpreendida.

A terra descompensada quer enforcar-te. Esforce-se...

Essa pena arcaica, pena azeda para os dias reais...

Louvai a civilidade e a filosofia. Mas o que tem a preguiça com isto? Retira-se o esforço, dispensa-se o problema.

A terra tem suas imperfeições em algumas reflexões espetacularizadas.

Perdão, amigo. Os tempos crus colecionam fracassos. A mente azeda se recupera do cansaço para encontrar no ar o mais bobo chavão em pleno repouso da neurose: esforce-se mais! Esforce-se poderosamente. De fato é bem cômico ralar o dia inteiro e alguém perguntar zombeteiro se está certo dizer “esforce-se mais” por “esforçar-se mais”. Soa como “esfalfe-se mais”. Esfalfado o homem perde a noção alegre da navegação barata que em segundos compromete a delicadeza da curiosidade.

Há educação na indagação, pois deseja se livrar do erro. Mesmo zombeteira a indagação, vai cobrindo o curioso da mais totalizada ignorância, basicamente sobre algo que parece estupendamente banal. A educação nasce da tolerância. O aprendizado ocorre como quem vai se livrar de um peso daninho. Quase sempre fenômeno oculto nos arrogantes a empáfia intelectual reside em ocultar o “não sei” ou o maravilhoso “preciso saber” sobre isto.

Aliás, a maior incidência de mentes azedas está justamente na rede mundial de computadores, dentro das comunidades, nos cantinhos dos blogs, no minúsculo laçônico tópico. O homem moderno tornou-se um ser especializado em azedume. Esse mesmo que ocupa todos os bits de todos os computadores. O azedume é incontrolável. Seja pela maneira de se considerar o humor ameaça das relações humanas, seja por se embutir na reação patética as piores frases lançadas ao mundo.

Observação: favor não escrever “esforce-se mais” como observação crítica.

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Escrevi no fACEBOOK: Proibido mentes azedas.