PRECISA-SE DE MÃES

Aprendi com a minha mãe, que todo o cuidado será pouco para um filho, e que por isso, as mães não relaxam. São felizes, podem viver bem, mas não relaxam. Natureza de mãe que tem mesmo natureza não obedece à lei da prática e da serenidade, porque para ela o mundo está sempre a um passo de ruir sobre os ombros do filho. Há sempre alguém muito próximo, e acima de qualquer suspeita, pronto a se revelar capaz de um gesto indigno, malicioso ou desmano contra esse filho.

Com as demais pessoas, aprendi que não é certo a mãe ser extremada, super protetora e desconfiada de todo o mundo. Até minha mãe reconheceu muitas vezes, com palavras, o quanto estava errada por ser assim. No entanto, sua natureza infalível, com gestos e vivências me fez ver definitivamente que alguma coisa está errada com a mãe que não erra nesse aspecto. Especialmente aquela mãe que se deixa sufocar pela mulher, sempre bem-vinda, mas não como substituta da mãe.

Foi com a minha mãe que aprendi a apostar minha vida no caráter do próximo, mas não a vida de um filho. E que a integridade física do meu rebento precisa depender de mim, dos meus cuidados, minha desconfiança, e não da sorte ou do acaso de outra pessoa ter ou não bom caráter, tanto quanto aprendi que o caráter não tem cara.

Finalmente aprendi, com suas poucas palavras e muitos exemplos, que mãe não tem meio termo. Se não pecar por excesso, pecará por falta de cuidados, e que nos tempos em que vivemos, toda falta será castigada em maior ou menor escala. E também aprendi, com a moderna escassez de mães iguais à minha, que os pais de agora têm que aprender a ser mães, pois são muitas as mães que se tornaram como aqueles pais meramente provedores que delegam totalmente seus filhos.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 08/11/2013
Reeditado em 08/11/2013
Código do texto: T4561926
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