A DITA É DURA
Por Carlos Sena (Da coleção “Textículos”)


 
Eu não defendo injustiça. Eu não defendo quem rouba dinheiro público ou privado. Eu não defendo falta de respeito nem de ética nem de ótica. De ótica? Muito menos essa eu defendo, porque é a ótica das coisas quem dita a ética, inclusive a estética da vida. Se não defendo nada disso, muito menos condeno por isso por absoluta falta de competência para o oficio de julgar, condenar, tripudiar... Por isso eu não defendo quem posa de bonzinho sendo filho da outra; por isso que não defendo quem vive colocando lixo debaixo do tapete; quem vive dentro dos seus “armários” afetivos ou sociais; por isso que não defendo quem mete a mão no nosso dinheiro (público) e com isso deixando muita gente sem saúde e sem educação. Muita gente sem. Se você quiser entender o meu “eu não defendo”, basta se responder a si mesmo se, diante de uma batida policial você se sente seguro ou segura. Se for mulher, menos segura se sentira, certamente. Nesse viés, diante de um “baculejo” a gente não sabe onde está o bandido, se na farda ou sem ela. Traduzir isso no âmbito geral desse país talvez seja o cerne do meu “eu não defendo”. Porque muitos são os injustiçados pela própria justiça e por muitos dos organismos encarregados de nos proteger. O entendimento de que cadeia neste país é pra pobre e pra preto é reconhecido internacionalmente, mas não tem evitado que rompantes ufanistas se alimentem de manobras supostamente justas, mas cheias de senões nos porões dos portões pretos.
Houve um tempo em que a dita era dura. Hoje continua dura, mas sem ser dita. Um dia quem sabe a gente não poderá acreditar nas vendas da justiça? Ela hoje é caolha, mas não olha com o seu único olho para os que precisam dela... Lugar de ladrão é na cadeia, desde que o ladrão não seja o de ocasião e seja caba de peia... Julgar é difícil e hercúleo, já nos lembra Jesus: “não julgueis para não serdes julgados”... Mas ele também nos lembra: “A César o que é de César”...