ELISEU VENTANIA, O GÊNIO DA CANÇÃO

Por volta de 1972 ou 73, comecei a ouvir todos os dias na Rádio Rural de Mossoró uma dupla de cantadores fantástica que tinha como nome: Eliseu Ventania e João Liberalino, dois monstros do repente para sua época. Eliseu Ventania foi o primeiro poeta repentista a cantar canções ao som da viola por todo esse nordeste de Deus e do diabo. Os jovens de minha idade tinham uma admiração pelo nosso poeta cancioneiro e músico também. Quando o vate potiguarino inseriu a canção no cenário da cantoria, recebeu ele severas críticas dos próprios cantadores de todo o nordeste brasileiro, e, sobretudo dos irmãos Batistas que se julgavam famosos e donos da razão. O poeta Eliseu Ventania cantou tudo quanto ele fez sem precisar de caneta de ninguém. Todo o Vale Jaguaribano ouviu o nosso genial poeta cantando versos e muitas canções de arrepiar os cabelos. Nenhum jovem de minha idade passou sem ouvir o repertório deste Homero nordestino e mormente rio-grandense do norte. O poeta foi o nosso ídolo, foi o Roberto Carlos do povo campesino, do povo que não tem voz nem vez neste país que quem manda é meia dúzia de gatos pingados da política. O cenário da viola deve muito a este poeta popular pela abertura que o mesmo deu ao rumo da cantoria, tanto que hoje todo e qualquer bate-viola se intitula mais ou menos um cancioneiro cantando canção dos outros, coisa que o autor de Recordação do Passado nunca fez. As canções de Eliseu Ventania ficaram para sempre na alma da nossa gente humilde do campo. Foi ouvindo o poeta potiguarino que senti vontade de cantar também, de ser um reporter do povo que não tem o direito de expressar sua mágoa e só fica satisfeito quando escuta o cantador nordestino. Ninguém melhor falou do nosso povo do que Antônio Gonçalves da Silva, Eliseu Ventania e tantos outros monstros sagrados da viola. O cantador é um intérprete do sentimento do homem da roça, do povo que não tem direito à imprensa de forma alguma. Leonardo da Mota tinha o poeta da viola como um homem atrasado de pouco saber e apagado musicalmente. Para o nosso Gustavo Barroso, grande escritor cearense, o poeta era letrado, ou semi-letrado. O grande Guerra Junqueiro falou do cantador de Setúbal dizendo que o repentista é um gênio imbatível. O próprio Manuel Bandeira também falara do cantador como sendo um menestrel mais ou menos letrado. E Eliseu foi na verdade um tremendo menestrel, uma vez que cantava repente, fazia canção e tocava viola de maneira sublime. Deixo este escrito para juventude sem cérebro examinar e sentir que a minha juventude tinha bom juízo e gostava do que era bom. O nosso poeta Eliseu Ventania, morreu cego como o grande cantador Aderaldo e João Firmino. O vate das canções foi acusado de não saber ler quando na verdade o poeta não falava errado e compunha as suas letras num português corretíssimo como ninguém. A terra natal do poeta Eliseu Ventania, prestou-lhe uma homenagem colocando um busto do genial artista em uma praça da grande Mossoró. O repentista potiguarino deixou adeptos por todo este nordeste das secas e cenário dos maiores cantadores de viola.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 19/11/2013
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