Uma alma alva

Platão já filosofava: “não aprendemos nada, apenas recordamos o que já sabíamos.” Então recordemos a história de uma criança que parece ter nascido sabendo que fazer o bem é um ato cego, pois não se deve olhar a quem.

São Mateus dos anos 1960. Alguém pedir em sua porta era uma rotina, mas na casa dessa menina nem sempre era rotina ter o pão para doar. Em uma manhã de sol, a sua mãe e a sua irmã mais velha saíram às compras. A menina feliz ficou limpando a casa, lavando as louças e vigiando os irmãos mais jovens, quando de repente em sua porta uma mulher veio pedir, ela então disse: não tenho nada agora... A pedinte então cheia de desgosto foi embora. A menina pensou: Vou lhe dar um pouco do que temos. Encheu uma vasilha com farinha de mandioca, correu descalça pelas ruas, alcançou a pedinte e lhe disse: Isso é o que eu posso lhe dar! A reação da pedinte foi jogar a farinha para o alto, que se dispersou em uma nuvem tão alva quanto à alma daquela menina, que extasiada ficou entristecida.

Contudo a menina mais crescida continuou com a alma clara. Quando a escola frequentava, por um campo de futebol aberto passava todos os dias, quando numa certa tarde outra pedinte que ali se encontrava lhe chamou a atenção. Parou e perguntou para ela: Onde é que a senhora mora? Ela então respondeu: Ah, menina não me amola! A irmã mais velha puxava a irmã e dizia: Ah, vamos embora! Mas a menina curiosa continuou perguntando: Como é o nome da senhora? Para a sua surpresa a mendiga respondeu: Alva... A menina que insistia em fazer o bem não acreditou e pensou: “Ela só pode estar zombando de mim...”, mas quem zombou mesmo dela foi a sua irmã que ria e dizia: “ah, ah, ah, essa foi boa! A mendiga tem o nome igual ao seu!”

E agora? A menina que só pensava em espalhar felicidade encontrou alguém que também poderia lhe fazer feliz... A pedinte atual continuou arrumando sua tralha e a menina lhe disse: Eu também me chamo Alva e emendou: E a senhora já almoçou hoje? E a Senhora Alva respondeu: “não, mas ontem, aqui perto, pedi em uma casa que me negou a comida, mas pedi em outra casa que me deu uma “malmita” com carne e “abroba” cortadinha assim, assim” e fazia o gesto como se estivesse cortando o braço.

Fim da tarde, a essa altura a menina ficou encantada com a possibilidade de ajudar sua Xará e com a oportunidade de se fazer feliz. Do alto do barranco ela bradou: Espere-me! Espere-me aqui... Vou buscar comida para a senhora! Correu até a sua casa, contou rapidamente para a sua mãe e lhe pediu que fizesse uma marmita e com mais rapidez ainda, saiu veloz, correndo ao encontro da que também lhe fazia muito feliz! O encontrou se prolongou por mais ou menos uma semana, a Dona Alva se abrigou em um casarão velho, no centro da cidade, e a menina contente deu conta de providenciar mais comida e remédios em uma farmácia chamada PROGRESSO.

Beatriz Barbosa Pirola

Feliz Natal a todos!

Beatriz Pirola
Enviado por Beatriz Pirola em 25/11/2013
Código do texto: T4586274
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