A Bibliotecária e as Caixas...

Era setembro, junto com as flores veio à ordem: “Transferir a Biblioteca Pública Municipal do Cais do Porto para a cidade alta, em apenas 20 dias, por ordem da Justiça.” A Bibliotecária pensa daqui, pensa dali, chama a equipe da biblioteca e diz: Vamos mudar! O prazo é curto e os recursos são quase nenhum.

Com “graça”, a Bibliotecária resolve ir às ruas buscar caixas para acondicionar os livros e outros documentos, na primeira esquina, estaciona nos fundos de um Supermercado e começa a recolher as caixas de papelão vazias, nisso passa um rapaz, leitor da biblioteca e diz assim para ela: “Aí hem...! Fazendo um biquinho...” Ela meio sem jeito levanta a cabeça, e argumenta: “Não... É que nós vamos transferir a Biblioteca”. Ele continua andando e insiste na brincadeira apontando o dedo para a ela: “É né? Bem que eu já desconfiava de você...” E a Bibliotecária ficou ali parada sem saber se ria ou se chorava.

Contudo, a mudança tinha que ser realizada, com segurança era quase 20 mil itens! E haja caixa de papelão! Ora as “rosas”, ora o “lírio”, ora a “margarida”, e lá ia a Bibliotecária buscar mais caixas pelas principais avenidas da cidade. Nos fins de semana a Bibliotecária não podia ver uma caixa de papelão que colocava no bagageiro do seu carro, nisso uma das suas filhas relata: Mãe, o jardineiro da família viu você na rua catando caixas e comentou assim: “A que ponto sua mãe chegou... Quem te viu quem te vê!” Pobre Jardineiro! Nem desconfiou que a bibliotecária estivesse ali com uma missão nobre! Mudar a Biblioteca Pública em tempo recorde!

Outro fim de semana... Exausta, a Bibliotecária resolve viajar para a capital, visitar uma livraria, ir a um cineminha, etc... Contudo a visita ao supermercado foi inevitável, eis que a Bibliotecária e o esposo, descontraídos, quando passam pelo estacionamento próximo a um canteiro de “Maria sem vergonha” veem uma senhora vistosa recolhendo caixas de papelão, o marido brincalhão se aproxima da distinta senhora, bate em seu ombro e pergunta: “A senhora também é bibliotecária?” A mulher levanta os olhos e responde: “Não, sou a Dália, sou professora de matemática aposentada”, ele então a compreende e reconhece nela sua colega de Departamento, sob o olhar atento da Bibliotecária os professores se cumprimentam fraternalmente, a Bibliotecária meneia a cabeça, esboça um sorriso e começa a matutar: caixa de papelão ou caixa de pandora?

Conta à mitologia grega que Pandora após receber a caixa, recebeu uma ordem de Zeus dizendo para jamais abri-la. Dia após dia, Pandora ficava cada vez mais curiosa. Certo dia decidiu que iria abrir a caixa para ver o que havia dentro. Quando abriu todos os males foram libertados, exceto um, que ali permaneceu: a esperança.

Beatriz Pirola
Enviado por Beatriz Pirola em 26/11/2013
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