ORA BOLAS
POR CARLOS SENA



Não dou bolas. Ora bolas, por que se tem que dar bolas para quem na vida não sabe chutá-las? Chutar bolas, afinal seria chutar o mundo porque, formato de bola ele se transfixa no eixo?
Queixo-me ao bispo, mas agora não serve só se for ao Papa Chico. Porque se pra uns o mundo é uma bola pra outros é um moinho. Bola de gude se perde na ponteira do pião que rola na palma da minha mão... 
Lá fora é noite de sábado e tem gente dando bola. Bola na cola, bola na bronha, bola na fronha, na maca da emergência, na boa e má conha.
Decido não dar bolas, exceto as do entre-pernas também que igualmente não se dão. Bolas de pernas de macho não são bolas são cachos - escrachos que a falsa moral se alimenta como pimenta que no dos outros é refresco...
Assim, melhor que dar é vender. Vender bolas de pabulagem pra político corrupto. Vender bola de isopor pra quem não sabe o que é amor. Vender bola de gude pra quem não esquece a infância. Vender bola de sopro (bexiga) pra quem aposta no sonho e não tem mede que o mundo exploda se ele for feliz. Vender bala como se bola fosse e vender bolo como se bala fosse liquidar de vez o fedor burguês.
Não dou bolas, decidido não dou. Dou outra coisa. Dou uma rosa e uma prosa pra contrariar sua seu mau juízo. Porque afinal, o mundo é mesmo uma bola e como bola tem dois lados: o de dentro e o de fora... Fico lá dentro esperando você, lá de fora, me dar bolas...