Sentei em cima dos óculos...
Começou o ano de 2014. Eu estava escrevendo no computador e, um pouco antes, deixei em cima da cama algumas coisas que estavam em cima da mesa para conseguir mais espaço. Entre elas, os óculos, delicados, quase transparentes, evanescentes... Terminei de escrever e voltei a recolocar as coisas em cima da mesa e me sentei na cama... Ui!!! Bem em cima dos meus óculos... Que barbaridade!
Região de contato fino quase insensível, só depois de todo o peso ali depositado notei qualquer coisa e levantei-me... Vi-os ali, humildes, resignados, mudos, assustados e totalmente arrasados diante de tal violência inaudita... O ano de 2014 deveria ser feliz também para os meus óculos... E por que não deveria?!? E... não é que foi?!? Foi supreendentemente! E foi... quase sobrenaturalmente!!! Contrariando a tudo e a todos, eles não quebraram!!! Só entortaram um pouco... No contexto deste planetinha, a formiga da impossibilidade venceu o mastodonte da física, da lógica! A parte magérrima da curva de Gauss, dessa vez, ganhou da parte gorda...
Artifício tão essencial para alcançar a acuidade visual perfeita e ao mesmo tempo tão frágil, como estes óculos conseguiram sobreviver a este ataque imprevisto de um “meteoro bi-glúteo-nadegal” de grandes proporções?!? Justamente, nesses quadrantes de tempo e espaço... Principalmente, de tempo! Início de ano novo! Este foi o sinal inequívoco - na aurora boreal de 2014, a impossibilidade vivida, a RESSURREIÇÃO DOS ÓCULOS – de que este será um ano diferente!
Neste ano, os textos preciosos do Concílio Vaticano II, sob a era do Papa Francisco, serão lidos como sempre deveriam ter sido – com todo vigor e desejo de colocá-los em prática a nível mundial!
A Igreja não será quase exclusivamente a hierarquia; será muito mais! Ela será, como instituição, o que Deus sempre quis que ela fosse – sinal e instrumento de salvação da humanidade!
A descentralização do governo eclesial chegou para ficar! A colegialidade episcopal deixará de ser um corpo consultivo, aparente, para ser um órgão deliberativo, eficaz e necessário para a liderança e governo do Bispo de Roma!
O carreirismo no meio clerical e a preponderância e arbítrio de uns poucos – a Igreja de poder e prestígio – vão sumir do mapa, abrindo espaço para a comunhão e participação de todos!
A dimensão mística e profética da fé cristã será mais forte do que a atenção dedicada a aspectos exteriores do culto e da identidade sacerdotal, como também, da manifestação religiosa descontextualizada de cunho emotivo e individualista!
O ideal de cristandade no imaginário de muitos cristãos será definitivamente abandonado!
Cada um de nós intensificará sua conversão pessoal consciente de que a ação do Espírito Santo nos desinstalará de nossos egoísmos e comodismos, exigindo generosidade e dedicação!
Depois do Ano da Fé, já vivido, acreditar na força de Deus e rezar passarão a tornar-se às atitudes indispensáveis para estar à sua mesa quando Ele passar para servir-nos!
Os cristãos conseguirão viver sua fé, nesta época turbulenta, através do anúncio da Palavra e do testemunho!
A Igreja, pela nossa vida de cristãos, nossas verdades e práticas, conseguirá testemunhar uma sociedade alternativa fundamentada na justiça e no amor. Humanizará a sociedade!
A doutrina, o dogma, a norma moral e o controle perderão força e cederão lugar para as categorias do encontro, da periferia existencial, da confiança, da responsabilidade, da proximidade, do diálogo, do cuidado, da colaboração, da alegria, da criatividade, da beleza, da justiça e da misericórdia!
A Igreja, comunidade de fé, conseguirá conversar de forma solta, livre e confiada – sem sobressaltos – com a sociedade pluralista e secularizada!
Vimos no Natal de 2013 que Deus não se revela na força nem no poder, mas na fraqueza e na vulnerabilidade de um recém-nascido. Deus é paz!
– Senhor, dai a vossa paz à Síria, à Palestina, à Israel, ao Líbano, à República Centro-Africana, à República Democrática do Congo, ao Sudão do Sul, à Nigéria e ao Iraque!
Esforcemo-nos porque a paz também é fruto da justiça!
Neste ano de 2014, tudo vai dar certo! Este é o ano dos óculos, dos que não sucumbiram diante de tanta pressão, dos frágeis, dos pobres, dos que desejam a paz! E... todas as pessoas que se sentarem em cima de seus óculos ficarão tão surpresas como eu... Eles não quebrarão!!!