Baratas! Eca!
 
Não tenho nada contra baratas, mas voar é sacanagem.
Luan Maurílio

 
Como toda mulher, odeio barata. Não é medo. É nojo, desses que arrepia até os pelinhos do nariz. Eca!
Deve ser trauma. Quando menina, no banho, dei de cara com uma delas, grudada no peito do pé. Lembro de ter gritado, fazendo com que meu pai e os cinco irmãos entrassem correndo no banheiro minúsculo, para encontrar-me atrás das cortina, o pé de fora, a baratona lá, solene. Só depois que eles pararam de rir, é que me salvaram daquele monstro.
Houve outros episódios. Não fiz mais escândalo, mas, depois que elas se vão, fico com calafrios por dias.
E não sou a única. Uma das minhas cadelas é capaz de ouvir os passos de uma barata média no piso de madeira e sair de sua caminha, latindo furiosa na direção do bicho. Porém, assim que entramos na batalha, ela se afasta e fica vigiando, só sossegando depois que o animalzinho asqueroso queda de pernas pro ar. A imagem caricata que nos vem à cabeça é que ela está gritando:
- Uma barata! Mata! Mata! Aaaahhhh!!
Meu marido costuma matá-las afogadas. Joga tanto inseticida nelas que elas morrem, debatendo-se em uma poça oleosa, mesmo com essa nova geração de produtos em que basta um tchii para garantir a morte quase imediata de qualquer invertebrado e até desacordar alguns vertebrados, como o morcego que entrou em casa há uma semana. Foi fácil pegá-lo e deixá-lo na mureta da varanda. O ar fresco deve ter-lhe feito bem, pois ele saiu voando um pouco depois.
Com um poder de fogo desses, não há barata que resista, a despeito de sua fama de que serão os únicos sobreviventes do holocausto nuclear. Dia desses, acertei uma delas apenas de relance e ela foi morrendo aos poucos, dolorosamente. Primeiro, as patas traseiras ficaram paralisadas. Ela, começou a se arrastar pelo piso, em espasmos, até que também as patas dianteiras congelaram-se e ela tombou de lado, estrebuchando. Compadecida, resolvi acabar com aquela agonia e pisei nela. Vou poupar o caro leitor da descrição do resultado.
Taí... acabei de me lembrar de mais uma característica bem feminina minha: conseguir apiedar-se de uma nojenta barata moribunda é mesmo tarefa para muita progesterona.

 
Texto publicado no jornal Alô Brasília, no dia 31/01/2014, reeditado do texto homônimo, publicado neste Recanto das Letras no dia 27/05/2008.