João Papa Pinto e a TV Blindada

Nascido no ano de 1980, durante a primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil, Joquinha, como é conhecido no lugarejo de Lagoa dos Sapos, no interior de uma pequena cidade do Sertão Nordestino, trás uma não agradável herança dos pais, que o batizaram e registraram com o nome de João Papa Pinto. O Pinto veio do pai, e o João Papa foi uma escolha da mãe que achava ser uma grande prepotência batizar o filho com nome de Papa João, como teria mais lógica à homenagem pretendida.

Ao saber através de seu radinho pilha que outro Papa estava chegando ao Brasil, se animou por acompanhar o que é tal emoção dos seguidores da Igreja Católica, justamente ele que até agora só havia acompanhado a Deus, nos cultos evangélicos quinzenais em sua pequena comunidade. Uma vez que os padres, mais escassos que os pastores, só aparecem por lá anualmente procurando o Pinto, ocasião em que celebram o culto católico. Mas agora foi a hora do Papa Pinto (nome que deveria ser ao contrário), procurar os padres de sua paróquia para saber da ilustre visita.

Brindado recentemente com o programa “Luz Para Todos”, do Governo Federal, a comunidade de Lagoa dos Sapos comemora a chegada da energia elétrica, e também do consumismo. As lojas da sede do município estão vendendo em trinta e tantas prestações e entregando a domicílio geladeiras, televisores, DVDs, ferros elétricos, fornos de micro-ondas, som três em um e outros geradores de barulho, o quem vem causando uma “revolução cultural” que já nem os sapos da lagoa estão dormindo em paz.

Joquinha, que há anos vem juntando economias para quando a energia chegasse pudesse comprar a vista, em dinheiro vivo, um aparelho televisor de boa qualidade, foi até uma loja de eletrodomésticos e pediu: “Aqui tem televisão com tela de vidro blindado?”. Após um segundo de silêncio e entreolhares dos vendedores, que desconheciam o produto, explicou: “É que os padres me disseram que para a agente ver o Papa tem que ser através de vidro blindado, e eu não quero perder de ver o que é um Papa de verdade!”, disse ele.

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(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, que assistiu pela TV todas as chegadas de Papa ao Brasil, e não esquece que João Paulo II beijou o solo brasileiro, e não esquecerá que Bento XVI de tão blindado nem ajoelhar para beijar o Brasil pode.