O Miado do Tempo.
Por Carlos Sena


 
Acordo. Meio zonzo de sono acumulado, sinto-me sem acúmulos ou débitos para comigo mesmo. Debito de consciência pesada, por exemplo, não tenho. Porque sempre fiz o que a consciência  me permite, pois costumo não violentar quem me mantém vivo e bulindo. Mas, fato é que, ainda meio “grogue” descubro um “miado”. Fui até o quarto e nada. Fui à varanda e pude observar que o dia estava lindo, embora já estejamos em pleno tempo de inverno nestas paragens nordestinas. Da varanda pude ver o mar. Ah, o mar. Quanta certeza ele nos diz, mas também quanta incerteza nos proporciona saber. Mas, no mar, o “miado” não estava. Retorno a cozinha, à sala e nada. Sento na frente do computa com a dor de sua frieza e também tive certeza que o mundo “miava” e eu nem me dei por conta. Explico: lá na minha terra – Bom Conselho de Papacaça – diziam, quando chegava junho, que o ano “miou” (meou). E completavam: “ano miou ano findou”.
Diante do monitor do computa (sem dor), pude acordar pra vida e me dar conta de que o tempo passa mesmo rápido. Ou não passa! Talvez seja a gente que não lhe dá bolas (olha a copa aí, gente) e, por isso, ele fura gols dentro de nós sem que nós percebamos quem chutou ou quem arremessou. Muitas vezes a gente fura gol de impedimento e nem se apercebe disso. Nessas ocasiões o tempo nos refrega com gosto e com vontade. Descubro, como num passe de mágica que já é junho e que o "gato" está "miando" dentro de mim.