Amor e Dor
Por Carlos Sena


 
Difícil imaginar o amor sem sofrimento. Parece até mesmo que “amor e dor” são rimas que se alimentam. Saber que amar dá trabalho e causa sofrimento e dor não assusta ninguém. Porque o sofrimento que o amor normalmente provoca é instituído pelo amor em seus mistérios. E falar de amor sem entender seus mistérios é como comer doce e não beber água. É como ir a Roma e não ver o Papa. É como tomar banho e vestir a mesma roupa. É como não entender que “o mais importante do bordado é o avesso”.
Por isso essa rima é perfeita. Porque há simbiose no sofrimento que o amor deixa, talvez por conta da nossa pouca condição para vivê-lo sem ciúmes e com total liberdade. A principal dor que a gente encontra no amor vem da posse: “meu marido, minha mulher, meu namorado, meu...” – eis o que verbalizamos talvez norteados pela antiga e equivocada teoria da alma gêmea.
Mas, o que sustenta as dores do amor é os seus prazeres. Prazeres que são consubstanciados no companheirismo, na compreensão, no respeito, no afeto... Porque os caminhos que se trilham no amor não são encontrados na geografia. Eles são construídos por dentro com linhas de cristal.
Há quem fuja do amor. Talvez por medo, por decepção, por incertezas diversas. Meras retóricas, não fosse o amor atemporal e contraditório na sua morada. Ele não chega avisando nem se vai embora deixando bilhete. Talvez dos sentimentos todos o que mais mexa conosco seja ele, o amor. Independente de qualquer justificativa o amor é como Djavan diz numa canção: “é um grande laço, um passo pra uma armadilha, tanto engorda quanto mata feito desgosto de filha”... “Por ser amor invade e fim”...