UMA CRÔNICA DA VIDA PRIVADA

_ Eu sempre tive a impressão de que eu fosse uma vela que arde, aluminado a todos e me consumia a mim mesma em sublime oferenda de amor e sacrifício. O que eu recebia em troca? Nem uma gota se quer de consideração. Cada membro da família real me via como enok, e assim eles tocavam a vida e me fazia entender em cada gesto seus de desafeto que, no que se refere a minha majestosa pessoa eles não estavam dispostos a ter nenhum motivo para se preocuparem com essas tolices de reverências e gratidões, coisas que qualquer matriarcais em fim de jornada sonham.

Nem sei mesmo por que esse tipo de comentário me ocorreu, sobretudo, agora que estou vivendo um dos melhores momento de minha vida. Estou, de certo modo, muito feliz! Já posso olhar no espelho e ver uma nova mulher. Alguém que está com muita sede de viver. Ocorre-me que, desde a última conversão, somente a gora, que o véu nebuloso o qual me cobria os olhos caiu, e agora tudo que eu não enxergavam, ou que não queria ver ou simplesmente não dava importância tornou-se como a alva. Até os desenfoques do cristal quando me via pousada em sua frente já se materializou. Na faculdade me tornei ainda mais popular e querida, lá eu era vista como uma cabeça pensante (e ainda sou), todos me tinham admiração. De certa forma me sintia lisonjeada. Até o professor arrastava asas para mim, esbanjava elogios à minha pessoa, resultado, o beijei. Acontece que o tal professor queria mais... Eu até gostava dele, mas tratava-se de um filho da mãe que não sabia levar a vida senão na galinhagem; queria pegar todas coroas carentes divorciadas da faculdade. Até as casadas ele não deixava escapar, tudo que caia na rede era peixe. Ocorreu que ele também se desinteressou logo por mim, vendo que meu negocio era outro... Se eu fiquei choramingando, me sentindo rejeitada? Que nada! Em vez disso parti pra outra. Logo conheci um grandalhão, digo grandalhão com razão, pois o figura media 1.95cm e pesava 110kg de pura banha e ossos. Deu mole, o beijei!!! Hehehe Realmente ele era ajeitado! Fazia-me o tipo, apesar de sua careca, mas isso era um detalhe insignificante perto dos seus grandes olhos verdes que cintilavam feito duas pepitas graúdas de esmeraldas; e alem do mais, era fino e educado. Confesso que me amarrei nele. Sou fissurada em homens grandes principalmente quando tem os atributos que o Eduardo possui. Mas isso não me faz desinteressar por homens canastrões, primatas e até mesmo vulgar feito o sargento. Estou me referindo o sargento Teixeira. O conheci numa dessas viagens que eu fazia à Cida Del Este. Resultado: acabei tendo um lance com ele. Algo breve...! Imagina, eu até lhe mandei flores brancas, cartão personificado com uma linda mensagem, mas nem por isso o filho da mãe se dobrou. Não seio que acontece comigo, quando me envolvo com um homem, logo ele dá no pé, some da minha vida. Uns se mandam já no segundo encontro, outros nem chegam aos finalmente... Modesta parte sou uma mulher carinhosa, romântica até. Sei fazer um homem feliz. Sou autentica e minhas emoções, quase sempre, estão à flor da pele, por assim dizer. Aqui acolá me apaixono. Até admito também que sou carente. O fato de está, na maioria das vezes, sendo deixada de lado por esses quebradores de coração, acabei tornando-me insegura em relação aos homens_ sempre acho que vou perdê-los logo após o segundo encontro.

Nem mesmo essas tolices de infortúnios do coração me tira essa paixão que tenho sentido pela vida e por questões existenciais. Outra questão que eu adorava debater em sala de aula: o bem e o mal, céu e inferno, Deus e Demônio. Talvez porque eu percebia o temor das pessoas em abordar questões tais... Antes dessa fase de faculdade eu vivia um grande conflito existencial. Acorrentada na ideologia cristã quase sempre eu me deparava com minhas angustias. Todas fundamentadas pela crença da existência de Deus e Satanás, Lucifé, Demônio, capeta, Chifrudo, seja qual a sua denominação. Eu cria, e atribuía a Ele todas as desgraças da humanidade, e a Deus tudo que pudesse expressar o bem. E com isso a minha angustia só ganhava dimensão e uma pergunta não me calava: por que o homem tem tanto temor a Deus? Será que Deus é vingativo? Não é Deus toda expressão de piedade, amor etc. e tal? Havia incoerência em toda aquela lógica. Questão tal eu levantei em sala de aula. Imagina que não era nem aula de teologia. Peguei carona na aula de metafísica. Veja o reboliço que causei em sala de aula. Os alunos questionavam cada um diziam uma coisa. Todos tinha sua opinião diferente um do outro, a única coisa em comum entre eles era o temor a Deus... Eu ficava observando aquela discussão empanada de certo receio e analisava cada ponto, e cheguei a uma conclusão: “somos prisioneiro de Deus. É por isso que o homem não tem liberdade. Todos teme o Seu castigo...

Imagina o homem sem temor a Deus! Livre para fazer o que bem entende. O mundo, com certeza, seria um caos, não? Tendo temor o mundo é o que é e o que não seria então se o homem se desprendesse-si das algemas de Deus? Percebo que as religiões são mecanismo utilizado pelos homens para manipular um ao outro ideologicamente numa monopolização disfarçada de Deus... O homem sente-se oprimido e escravo de mil formas de escravidão, quer libertar-se, mas como libertar-si?

Hoje, anos depois recordo-me aquele debate em sala de aula na faculdade, vejo que pouco mudou no mundo, os homens continuam os mesmos, os mesmos insanos que para obter poder usam as armas que possuem em mão: política, religião, e a ciência... Eu? Enquanto a minha pessoa, pelo contrário, mudei muito; tanto fisicamente quanto ideologicamente. Não tenho mais religião, vi que a única valia que tinha para mim era para encher-me de angustia. Não creio mais em Satanás, porem, eu continuo crendo em Deus, mas de outra maneira que não a de outrora.

Valda Fogaça

VALDA FOGAÇA
Enviado por VALDA FOGAÇA em 14/06/2014
Reeditado em 14/06/2014
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