Todo ciúme é um crime

O ciúme é uma estupidez que afeta primordialmente a liberdade do outro. Creio em justas núpcias no sentido das relações naturais em termos de fidelidade, jamais obrigatórias, contratuais ou finalmente patrimoniais. Ocorre que os meios de mensagem para populações aturdidas pela velocidade das informações raramente são reflexivos e filosóficos. Portanto assuntos de grande seriedade são tratados como informação para repasse filtrado pela lente dos interessados. Fugindo de tais tolices temos um país que patrocina o ciúme, além das relações possessivas em diversas obras, sempre configuradas pelos meios de diversão de massa. Esse é o contraponto cego da informação. As grandes fábricas de sonhos patrocinam o ciúme doentio como o cerne brutal das tramas.

João que amava Maria viu Maria com Antônio e João derretido pelo ódio, ataca ferozmente Antônio com uma faca de cozinha. Antônio era o carteiro entregando a correspondência da Mãe de Maria lá do Piauí. Parece piada, mas os meios de informação de massa exploram sem reflexão esta miséria imbecil. As cadeias estão cheias de crimes passionais. Por que Maria não poderia ter um caso com o carteiro se quisesse? As novelas poderiam focar este adeus como natural, pronto. João, você precisa rever a sua vida afetiva através de um novo ponto cardeal. Adeus cuide-se, procure uma avaliação na central de recursos para apoio afetivo. Namore novamente pela web, quem sabe. Dane-se, mas deixe viver. É uma educação que inexiste em nossa pátria de chuteiras coloridas.

Essa mania de somente A e b é terrorismo implícito insuportável. (Jogador de futebol não é trabalhador. O fato de um ganhar e outro perder são fatores que coordenam a vida emocional, possuindo um fundo absolutista e daninho). Deixamos de amadurecer com este modelo. Acabamos imersos nestas ilusões de massa. O que ocorre é que somos constantemente levados a desenhar nossas vidas pelas referências artificiais e produzidas para definir o mercado das almas.

Poderiam existir outras variantes nunca apresentadas como: Maria era casada com João, encontrou um empresário rico, logo vendo seu marido desempregado apresentou-lhe ao empresário que casou com ela e com ele. Viveram assim felizes para sempre encantando uma espécie de harém das coincidências. A trama é tola, mas bem melhor das que vicejam nos horários nobres. Trama sem facadas, sem sangue, sem desvarios nem bofetadas.

Extingue-se o medo do amor e temos então uma sociedade plural voltada para o próprio bem estar. Ocorre que a lei é clara tanto quanto insuportável na prática monogâmica. Seu viés é o crime pela intolerância.

Com o passar dos anos serão tantas leis que o indivíduo será fatalmente delituoso, caso não seja perfeito. O mundo urbano matou o amor verdadeiro que é pastoral. O amor verdadeiro é oriundo da fase agrícola. O mais próximo da natureza, o mais simples, o mais ágrafo e o mais livre. O amor que havia antes das religiões europeias e orientais surtirem seu efeito daninho de domínio político neste vasto continente.

João Ramalho foi o grande herói nacional. Herói oculto pelas conveniências. Sem João Ramalho não haveria Brasil. O azar de João Ramalho (existiu mesmo, pesquisem a vida deste ilustre homem, façam filme sobre ele.) foi ter reencontrado o mundo pelo qual fugira. A vida afetiva brasileira teria sido melhor caso João Ramalho tivesse devolvido Martim Afonso de Sousa de volta para Portugal com sua esquadra entupida de tecnocratas da alma.

O crime passional só pode ser combatido com a liberdade alternativa que hoje tem o nome ridículo de diversidade. Diversidade sempre existiu e sempre existirá, o que está longe do foco é a própria liberdade em nome do bem estar social. O direito indiscutível de ser adulto e abandonar de vez a infância das consciências ingênuas. Noventa e nove por cento do que chamam de imoralidade é vida adulta.

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