Por culpa do Papa Bento...

Antônio xará do padroeiro ia à missa caminhado ligeiro, antes deu um beijo na mãe pela passagem do seu dia que ainda dormia. O cheirinho e o carinho de nariz a nariz frio do cachorrinho de estimação não lhe causava nenhum rejeito, tomava o café comia o pão com requeijão cremoso, do mesmo jeito como se não tivesse reparado que “Pop” estava gripado. E o sino da matriz que deveria acordar só os católicos, às seis horas da manhã de domingo fazia “blim-blão blim-blão” no ouvido de todo e qualquer cristão.

Antônio no altar com cara de santo que veio de Lisboa, no ortório esperava para ouvir aquele bando de mulheres que lá vão sempre lhe pedir o favor de intermediar-lhes algum amor. O padre atrasou a missa assistindo o Jornal da Manhã, na expectativa de saber se já acontecera algum novo milagre de São Galvão do Brasil, afinal o novo velho santo vem recebendo milhares de pedidos para que ele leve da terra (de uma vez para sempre) essa turma das drogas e dos assaltos, em uma excursão coletiva entre as nuvens para prestar contas com Deus lá no céu, uma vez que Papa bento XVI falou desta possibilidade. E este é o grande milagre que o Brasil espera!

Depois da missa o domingo corria parado, pouco ou nada acontecia a não ser os tilintares da campanhinha dos telefones congestionados de tele-mensagens. Até quem já não tem mãe, aproveitando a ocasião enviou um recado de amor às mães alheias! Todos iguais para todas. Até na Rua da Zona Leste (a cidade é grande e tem zonas ao Leste e a Oeste, ao Norte e ao Sul), mensageiros entregavam cestas com café da manhã de camisinha e bermuda. O que tem? Os carteiros também já usam bermudas! E os filhos de uma das zonas não se importavam se alguém perguntasse; “foi a p.... que te pariu? Afinal é dia de cada um dos filhos reconhecerem os valores maternos.

E Antônio e Antônio se falavam, mas um só escutava o lamento do outro que solteiro queria ser casar, A conversa em frente ao oratório para quem ouvia, via ou de longe assistia, pelo gesticular dos braços e cara de beicinho do penitente, sugeria que algum papo diferente estava rolando. Uma beata disfarçada de santa submersa em um véu, conseguiu com seus aparelhos naturais auditivos captar, e depois se encarregar da notícia pela cidade espalhar.

E Antônio para Antônio dizia: “Meu santo xará há tantos anos / Que lhe peço a graça d`eu casar / Ter alguém por companhia / Um lar doce lar formar **** Mas agora perdi a esperança / E vou chorar e chorar de lamento / Tudo por culpa do Papa Bento / Que proibiu nós gays ao casamento!” <<>> E então nosso personagem, até então enrustido, trocou a calça por uma mini-saia, deu um beijo em sua mãe que então acordou, e saiu por ai... E o domingo que corria parado ficou agitado!

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Seu Pedro é Pedro Diedrichs, 59, jornalista editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia... Casou algumas vezes sem ter nunca passado à mão no “pau de Santo Antônio”, como é tradição católica nos festejos de13 de junho.