O seráfico São Galvão



   É franciscano o primeiro santo brasileiro.E não podia ser diferente: foram os filhos de Francisco de Assis os primeiros a chegarem no Brasil trazendo a mensagem do Evangelho.
Foram os nossos primeiros missionários.

     No livrinho de história que abrimos ainda no jardim da infância, aprendemos que foi frei Henrique de Coimbra, um franciscano, quem celebrou a Primeira Missa na terra descoberta pelo almirante português Pedro Álvares Cabral, e que tempos depois recebeu o nome de Brasil.
     Em seguida, é mostrado pela mestra o famoso quadro da Primeira Missa. Um óleo saído da imaginação - para alguns, exagerada - de Victo Meirelles. 
   Não são poucos os que acham que o quadro não retrata, com exatidão, o momento da celebração eucarística presidida, no dia 26 de abril de 1500, pelo capuchinho Frei Henrique. 

     Na ausência de outro mostrando como, de fato, foi a missa do descobrimento, é acreditar que tudo aconteceu como a imaginou o pintor Meirelles. 
     Acompanhei com carinho e redobrada atenção a solenidade de canonização do frade Galvão, talvez a única a se realizar fora do Vaticano. Não digo isso com segurança.
     Em nenhum momento ouvi do Papa Ratzinger uma referência, direta ou indireta, a São Francisco de Assis, o fundador da Ordem à qual pertenceu Frei Antônio de Sant´Ana Galvão.      O Papa que me perdoe, mas não gostei. Perdeu Sua Santidade a oportunidade de recordar, (nunca é demais) do alto do seu trono pontifício, a figura do Poverello de Assis.  Até para robustecer suas homilias sempre preocupadas em orientar o seu clero na acolhida definitiva dos descamisados.
 
     Coisa, aliás, que São Francisco fez, séculos antes de destacados membros da Igreja Católica admitirem, como correto, o comportamento de seus pastores que manifestal claaramente sua "opção preferencial pelos pobres".  
    
Mas o que eu queria dizer na minha crônica de hoje - a centésima que publico no Recanto das Letras - é que, se o Vaticano tivesse ajudado, bem antes de Frei Galvão uma santa, genuinamente brasileira, já estaria nos altares.
     Consta, que sua canonização teria sido indicada à Santa Sé, em 1720, por Dom Sebastião Monteiro da Vide, bispo de Salvador, e também seu biógrafo.
     Falo da religiosa baiana Madre Vitória da Encarnação. Sóror Encarnação nasceu na capital da Bahia no dia 6 de março de 1671. Ingressou na Ordem das Clarissas em 29 de setembro de 1686. Passou a morar no Convento franciscano de Santa Clara do Desterro, em Salvador, onde viveu em permanente oração, e se submeteu, até morrer, a um rigoroso regime de penitência.
    (...) "Às sextas-feiras transfigurava-se. Carregava às costas uma pesada cruz; entalava na fronte uma coroa de espinho cujas pontas lhe rasgavam as carnes."

     Hoje, quase ninguém mais fala em Sóror Vitória da Encarnação! E estaria irremediavelmente esquecida, se dois renomados baianos, o historiador Pedro Calmon e o romancista Afrânio Peixoto, não houvessem, em seus escritos, dela se lembrado, para lhe exaltar as virtudes que a levariam fácil à canonização.
      Na História das irmãs clarissas na Bahia, Madre Encarnação tem lugar de destaque.
    Deixo com os pesquisadores a tarefa de "ressuscitá-la". Até que apareça um (a) Postulador (a) que se interesse em pedir a Roma pelo menos  sua beatificação.
    Madre Vitória da Encarnação morreu no dia 19 de julho de 1715. Ainda há, portanto, tempo  para incluí-la na fila dos que ainda podem e devem ser canonizados... 


 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 15/05/2007
Reeditado em 11/02/2020
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