CRÔNICA

A tia Ana Rosa foi uma pessoa muito importante na minha vida de menino órfão. Das minhas três tias era ela quem mais me queria bem. Tudo quanto eu desejava, quando menino ela fazia um jeito de me agradar. As minhas primeiras roupas foram feitas por esta tia honesta e boa. Ela era a anfitriã de receber toda e qualquer pessoa que vinha a nossa velha casa em Malhadinha. A sua luta diária era dar de comer os seus porcos, os seus carneiros, as suas galinhas e tratar dos seus xerimbabos. Ninguém saia da nossa casa, sem levar uma palavra de conforto, um abraço forte, ou um sorriso no rosto que a tia Ana não oferecesse. Os nossos bons vizinhos gostavam desta tia celibatária e amável. Não conheci a tia Ana Rosa fazendo outro serviço, que não fosse á luta caseira. Quase todo dia a gente ia com ela para a vazante buscar comer para os seus porcos, para suas ovelhas, e outros animais caseiros. O nosso transporte era o jumento benfeito do tio José. Eu ia montado no jerico todo satisfeito, como se eu fosse num bom veiculo. A tia Ana não alcançou eu cantando repente, pois quando eu encetei a arte da cantoria ela já tinha falecido há 20 anos. Com esta tia sincera aprendi respeitar o meu semelhante e ter amor às coisas boas da vida. Devo a tia Marica o incentivo a literatura, porém a tia Ana Rosa me conduziu por outro ângulo da vida. A minha infância foi feita entre estes dois seres de tamanha convicção. A primeira professora que tive foi contratada pela tia Ana Rosa para que estudasse a velha carta de abc e depois tomasse outro rumo. Tinha ela bastante amor pelo saber, embora não fosse amiga dos livros, como era a tia Marica, que lia diuturnamente os bons autores e muitos cordelistas famosos. Eu não tenho como falar mal da minha criação visto que fui bem mimado e consegui aprender alguma coisa sublime, que ainda hoje me serve de alegria e estimulo. Aminha terceira tia chamava-se: Josefa Rosa Santiago, e era bastante diferente das outras duas no aspecto, no sentido de viver e muitas coisas que nos cercam a nossa vida. A tia Josefa gostava de rezar, de ir à igreja, de conversar com as suas amigas beatas ou coisa parecida. As suas vias-sacras chamavam atenção de muita gente boa e de muitos jovens de que faziam parte deste movimento religioso. Eu sempre acompanhei a tia Josefa, porem pouco aprendi com ela, pois o meu caráter já tinha o vigor estético e a vontade de seguir o caminho das letras e ser um poeta ou prosador autentico. Com a morte destas três tias, minha vida tornou-se um verdadeiro fracasso, um inferno insuportável. Quando eu me lembro da casa do meu avô, ou das minhas tias vem-me água nos olhos e meu único consolo é chorar e me lembrar dos dias da minha infância. Eu sempre me recordo deste passado lindo quando eu leio o livro memórias de Humberto de Campos, que reflete os dias da minha infância juntamente com estas três tias imortais. Os trabalhos da tia Josefa eram mais maneiros, eram apanhar feijão, quebrar milho, fazer algum trabalho caseiro e máxime rezar. Já tia Marica gostava da sua renda, do seu crochê e outros trabalhos de artesanatos. Quando sobrava algum tempo, ela procurava a ler os bons autores universais e brasileiros. Foi com ela que iniciei as minhas leituras na velha estante do meu avô. A tia Ana Rosa gostava muito da sua luta campesina, do seu trabalho mateiro e cuidar da luta do lar.

Autor: Antonio Agostinho

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 08/10/2014
Reeditado em 08/10/2014
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