Nordestino e com muito orgulho

          1. Hoje, 8 de outubro, é o Dia do Nordestino, o meu dia. Sim, eu sou lá do Ceará.
     Nasci na pequenina Carius, no coração do sertão alencarino. Carius é uma cidade do centro-sul cearense, a 411 km de Fortaleza, ribeirinha do Jaguaribe, considerado o maior rio seco do nordeste.
          2. O Dia do Nordestino foi instituído em 2009, em São Paulo, a cidade brasileira (todo mundo sabe disso) onde é enorme a colônia dos filhos do nordeste. Procuram Sampa em busca de dias melhores. Uns conseguem e outros não, essa a realidade.
          3. A data foi criada para homenagear, no seu centenário, o vate cearense Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa de Assaré (1909-2002).
          4. Faz algum tempo, escrevi uma crônica - Em cada esquina, um do nordeste - dando destaque à presença da valorosa gente nordestina no dia a dia da gigante capital sudestina, permitam-me assim chamar São Paulo.
          5. Mostrei que eles estão nas portarias de suntuosos prédios e dos hotéis de luxo; nos restaurantes e bares da Paulista, dos Jardins e dos bairros mais distantes.  
          6. São funcionários públicas; trabalham nas famosas indústrias e no comércio varejista da 25 de Março ou da José Paulino. Dirigem ônibus, metrô e taxis; e são donos de modestos botecos, na periferia, vendendo sua cachacinha, seu quebra-queixo, sua tapioca e seu bolo pé-de-moleque.
          7. Centenas são secretárias do lar; garçonetes e babás. Todos os dias, ainda de madrugada, deixam suas casas para chegarem, na hora acertada, no trabalho que lhes garante o pão de cada dia.
          8. Depois de um dia de muita luta,  na volta para casa, elas enfrentam, com resignação, um transporte coletivo  ruim e lento, mas sempre  alimentando a esperança de ainda encontrar seus filhos acordados, o que nem sempre acontece. 
          9. Assim vivem os nordestinos que escolheram Sampa para morar, deixando sua terrinha no começo da estrada, como dizia a cearense Rachel de Queiroz.
          10. Quero comemorar o Dia do Nordestino, o meu dia, na companhia de Patativa do Assaré, transcrevendo, aqui, este seu belo poema.

                    O nordestino em São Paulo

     Em consequência de uma seca horrível,/ para São Paulo o nordestino vai/ leva no peito uma lembrança incrível/ da boa terra onde morreu seu pai. = Vai pensativo pela sua estrada/ contra o destino na cruel companhia,/ chega em São Paulo sem saber de nada/ entre os costumes de uma gente estranha = E passa a vida sem gozar sossego/ sem esquecer o seu torrão natal,/ com o salário de um mesquinho emprego/ sua família vai passando mal = Quando a notícia do Nordeste tem/ com um inverno de mandar plantar/ maior saudade no seu peito vem,/ escravizado sem poder voltar.
          Deixem-me repetir: sou nordestino, e com muito orgulho... 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 08/10/2014
Reeditado em 03/11/2015
Código do texto: T4991923
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