Um dia eu crio um Pardal

A única felicidade que eu tenho tido em ser jornalista sonhador é que entre as tantas dificuldades, e até doenças, nada me trará mais cabelos brancos. Na minha cabeça não há mais um fio a mudar de cor! Os meus resultados financeiros são vermelho PT, é que desde que os trabalhadores assumiram diminuíram o meu trabalho, e eu vivo de produção!

Pois bem, dias destes estou caminhando na pracinha, quando dona Mercê olha para mim e dá um grito de fazer voar todas as borboletas do jardim: “Tem um negócio pretinho nos seus cabelos”. Pensei que tivesse havido uma reversão e na minha cabeça agora nascessem cabelos pretos. “É cocô de pardal”, Ela me informa, depois de uma olhada mais profunda em minhas raízes capilares.

Volto a pensar que esse negócio de estar escrevendo notícias com redação perfeitinha, tudo dentro dos padrões, não combina muito comigo, assim como não está me dado muito lucro. A prova é que passo horas na Internet quando poderia estar com a família em uma churrascaria. Mas onde está o dinheiro? A última bolada que eu vi ainda foi na campanha presidencial, naquela foto dos dólares destinado à compra do tal dossiê.

Passei a mão cabeça, limpei com um pedaço de papel higiênico oferecido pela zelosa senhora, e olhei desconte com a borrada do pardal, que não paga aluguel, mas vive em um Ipê Amarelo, árvore símbolo da resistência. Em cada galho havia uma dúzia de pardais. Como identificar que me fez a mancha preta? Pelo menos lhe ofereceria um pedaço do papel higiênico, afinal o que a pequenina ave fez é sujeira.

Voltei para casa com aquilo na cabeça. Pardal é um passarinho que não tem jeito, tem em todos os cantos da cidade, é pássaro urbano, na roça raramente é visto, gosta de perturbar os ouvidos dos demais viventes com um “tiu-tiu-tiu” irritante e repetitivo, não paga aluguel, rouba pedaços de pão em nossa mesa, se for engaiolado morre e por isso ninguém prende, e ainda por cima faz cocô na cabeça dos outros! Qualidades de jornalista anarquista!

Pronto, misturei tudo na minha cabeça em que os raciocínios de diabético são mais lentos. Deu vontade de mudar a linha do meu sério jornal Vanguarda para uma linha mais anarquista, e ao mesmo tempo tomar emprestado os comportamentos dos pardais.

Eureka! O meu próximo jornal vai ser diferente, vou criar um “Pardal” para borrar na cabeça dos políticos e outros mequetrefes, de cabeça branca ou não, e ele será livre como um pássaro na praça, e nem os endereços da redação e da gráfica alguém terá que saber. E que se cuidem os “Bundões” (de Salvador/Bahia) e o “Cocozão” (de Ponta Grossa/Paraná), que cocô de pardal é gotejado, cai aos poucos, porém causa um maior raio de irritação e prós e contra.

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(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi / Bahia, tem o título de “Jornalista do Sertão”... Em breve lançar o livro “O Banco Naquela Praça”, onde entre outros heróis, o pardal exerce um ato de cidadania ao fazer cocô na cabeça do prefeito que não consultou o povo sobre mudanças na praça, onde as raízes culturais são muitas!