Três crônicas em uma: Clodovil, Marcelo PQD e o meu curso... entre o público e o pessoal

Por não ter escrito ontem (na noite de sexta-feira) de forma satisfatória, por conta das minhas expectativas em relação ao Curso de Formação Política, em Guararema, no interior de São Paulo, tratei de colocar na minha crônica dois fatos quentes. Interessantes, por sinal. Serve mais pela sua polêmica do que pela sua própria serventia; no entanto, há quem ache que ela é útil para muita gente boa dispersa por aí.

O primeiro tema gira em torno do xilique vexatório do Deputado Federal Clodovil Hernandez (PTC-SP), depois de um ataque de piti, ao não ceder o seu assento para um passageiro já marcado naquele lugar. Após alegar ser idoso e estar na condição de parlamentar, o uso de sua arrogância e antipatia gerou o furor e a hostilidade dos passageiros. Diante da irreversibilidade daquela situação constrangedora, Clodovil teve de ser obrigado a se retirar do avião e ir prestar depoimento à Polícia Federal.

Talvez, imagino a impressão dos passageiros frente à prepotência e a vaidada burra e arrogante de Clodovil, usando-se da sua condição de parlamentar para se colocar em um pedestal "acima do bem e do mal". Culpa não só dos eleitores, mas do sistema democrático viciado, sem debates qualificados e partidos realmente estruturados politicamente e no campo ideológico, fazendo com que apareçam, volta e meia, figurinhas folclóricas como o Clodovil.

Quem via há tempos atrás o Clodovil, antes da sua eleição, não o reconhece. Criticava o Poder Público, a classe política e os partidos políticos. No entanto, ao tomar posse, sequer sabia as suas atribuições e quais as ações a tomar dentro da Câmara dos Deputados.

Depois do bate-boca gratuito com o Maluf e a ofensa feita com as declarações frente à Deputada Federal Cida Diogo (PT-RJ), logo após o incidente do avião espera-se o provável capítulo seguinte. Ninguém sabe do teor, diante da imprevisibilidade do Clô. Todavia, todos nós estamos preparados para a próxima investida ou jogo midiático do performático parlamentar paulista.

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A prisão de Marcelo PQD nas proximidades do Morro do Dendê teve uma particularidade. Dentre os presos, estava um assessor da Deputada Estadual Cidinha Campos (PDT-RJ). A atitude coerente e decisiva da deputada em exonerar sumariamente o assessor demonstrou a postura incisiva de uma parlamentar que, em nenhum momento, jamais pautou pela ilegalidade e utilizou-se do seu mandato, baseando-se na ética e na transparência política. Sua atitude apenas referendou, de fato, o seu comprometimento com a integridade moral e política.

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Concluindo, aproveitando esse ínterim, quero expressar este momento raro de escapadinha pessoal, entre as overdoses de debates políticos presentes no I Curso de Formação Política da Escola Nacional Florestan Fernandes, em um sítio do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em Guararema. Consegui, enfim, encontrar uma sala livre para acessar a Internet. Um milagre, por sinal. Confesso que, entre as saudades da minha amada e dos meus pais, tive de me conformar com o apoio dos meus amigos do Partido, em meio a um frio de 14 a 15°C e o isolamento total do mundo, sem qualquer meio de comunicação à minha disposição.

A estrutura é fenomenal. Cheguei pela manhã a cravadas sete horas da manhã, depois de seis horas e meia de viagem, com direito a uma parada em Guaratinguetá, entre as 4:30 e 5:15h da matina. Fui em um Star Bus Itapemerim, com conforto e com o lugar a sós. O que mais fiquei revoltado, talvez, foram dois itens. O primeiro é que como os ônibus eram ocupados por ordem alfabética, o primeiro era ocupado pelas letras A a L e o segundo, da letra M em diante. Fiquei praticamente sozinho, sem a galera do Partido. Aliás, para ser genuinamente honesto e sem faltar com a verdade, veio em meu ônibus duas pessoas que faziam parte do Círculos Bolivarianos Leonel Brizola... a Mariana Fernandes e o Wladimir - pessoas pelas quais não tenho grande intimidade e afinidade. O segundo é que um número considerável de pessoas faltaram e sobraram vagas no ônibus, o que impediu que muita gente boa e competente fosse ao ônibus para o curso de formação política suprapartidário.

Seja pelas circunstâncias, posso assegurar a você que a estadia tem sido boa, desde o café da manhã até o momento agora que irei jantar. O tratamento dispensado a nós tem sido até surpreendente, com alojamentos com dois andares, onde cada apartamento possui de 6 a 9 camas e possui privadas e chuveiros de qualidade, podendo moderar o clima da água.

Após a separação dos núcleos pela manhã e, no início da tarde, com a exposição de uma peça teatral, tomei um lanche, na espera da palestra de um dos historiadores que nunca tive o prazer de conhecer, mas que sempre admirei seus textos, mesmo com a minha divergência político-ideológica... ele, Valério Arcary, Professor de História na Universidade Federal Fluminense (UFF) e filiado ao PSTU.

A palestra de Arcary foi bastante relevante, dentre as perspectivas conjunturais políticas do país. Particularmente, com a fala posterior de um membro da Liga Campesina, entre gente cansada da viagem, com sono, e pessoas que "matavam" a palestra, fiquei imaginando sobre inúmeras pessoas sem ter a oportunidade ímpar de assistir àquele debate brilhante de um trotskista coerente e conversável, mantendo a sua exposição com equilíbrio e maestria, com suas ponderações.

Posso dizer que não estou muito disposto a participar hoje à noite da quadrilha que vai ter com os componentes desse curso de formação política. Quero dar um tempo para mim mesmo... aliás, teórico e militante trabalhista que se preza também tem um direito para tirar para si mesmo, nem que seja um descanso condigno.

A mim, tratei de compor este misto de crônica e agenda, compartilhando um pouco das minhas percepções de hoje. Sei, claro, que não pude ver os jogos de futebol na TV... tampouco ouvir as notícias. Mas me senti integrado a um mundo que, entre idealistas, sectários e indiferentes, quero idealizar para mim, para os meus e para a minha sociedade... um mundo fraterno e justo. Ainda que, para isso, tivesse de me deslocar aproximadamente 400 quilômetros para esse intento.