La Mancha.

O "autobús" seguia contornando a "Sierra Morena" , de "Andaluzia" a "La Mancha", planaltos áridos e sinuosos, com parca vegetação, cactus e pequenas árvores de troncos largos, esparsas , barrancos a beira da estrada, e uma paisagem cor de areia , túneis e montanhas completavam o relevo acidentado próximo do coração da Espanha.

" La Mancha" se aproximava , o que significava a proximidade de Madrid , pois está em "Castela", no centro da Península Ibérica, um dos antigos reinos , uma terra medieval , com poucos vilarejos de pastores e muitas histórias .

A terra descrita por "Cervantes" ía se fazendo presente a nossa vista, enquanto o ônibus seguia firme pela "carretera", e aos poucos avistamos vários moinhos de pedra ,brancos, caiados , com as suas pás , as mesmas atacadas por "Don Quixote" em seus delírios, e a vegetação agora se fazia presente, pintando o cenário de verde. Pradarias e rebanhos de carneiros , e aos poucos, as lindas oliveiras , aqui e ali, a perder de vista, eram as "Fincas" (Sítios) para o cultivo , e o homem agora se fazia presente na paisagem.

No alto da colina avistamos alguns castelos em ruinas ,maltratados pela ação do tempo, e por instantes parecia que haviamos viajado no tempo.

A visão nos levou ao " Cavaleiro da triste figura ", em seu cavalo " Rocinante", um pangaré, tão magro quanto o dono, e ao seu lado, num burrico, o fiel "Sancho Pança", e imaginei o cavaleiro atacando aqueles moinhos ,com a sua lança de tornéio, como vemos nos livros, para salvar a donzela Dulcinéia .

" Don Quixote" , de "Miguel de Cervantes" foi considerado pela crítica mundial o melhor livro de todos os tempos, escrito originalmente em dois tomos , com um espaço de tempo entre o primeiro e o segundo, e posteriormente compactado em apenas um livro .

A obra é linda, se refere a loucura e a lucidez, ao dura realidade, e aos devanéios dos homens. Fala da insanidade em suas diferentes formas , e questiona as verdades de uma sociedade, assim como os reais valores humanos, a inversão desses valores, e também coloca em xeque as falsas lideranças, hierarquias e eleva o espírito do homem, quando nos despimos dessa razão. Fala dos sonhos, das conquistas, do quanto atacamos os moinhos durante nossas vidas, gigantes de pedra. E quando ele, já em seu leito, desperta do torpor, e se repara com a triste e "insana " realidade, prefere morrer, pois a loucura era muito mais bonita .

Muitas obras posteriores, e canções que foram feitas mundo afora, tem o tema inserido , voluntáriamente ou não, como " Maluco Beleza" , " Metamorfose ambulante" , do Raul Seixas, por exemplo, assim como muitas outras, que questionam abertamente tudo o que acreditamos estar nos padrões e princípios, e nos esquecemos da própria essência, e dos princípios naturais que nos movimenta.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 12/02/2015
Reeditado em 12/02/2015
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