Traumática...

Traumática...

A morte de Inezita Barroso trouxe lembranças... , ela foi pivô, mesmo, sem saber de uma separação... Traumática! Traumática? Traumática!?

Solidão! A partir do pôr do sol, ela se sente só! A casa fica quieta. A empregada, sua fiel escudeira em um terço da sua vida vai para casa ao entardecer, e, ela fica só. Os amigos, a aconselham, arrumar uma cuidadora para a noite, contudo, ela não aceita! Durante a vida, ela trabalhou muito, amealhou riquezas, após, a morte do marido os filhos se beneficiaram com as propriedades e a renda dos aluguéis... “Dinheiro, não é problema!”, ela, sempre diz, o problema maior é: não querer gastá-lo, ouso compará-la ao senhor Scrooge, personagem de Charles Dickens, tão sovina , o mão de vaca, só pensava em dinheiro.

Dizendo-se solitária consegue sempre alguém para levá-la passear! Numa destas noites a sua amiga cansada de carregá-la por todos os cantos, resolve dar um fim no problema, afinal, ser guardiã e motorista cansa! A mulher não a deixa em paz chega a ligar 20 vezes por dia convidando-a para sair!

À noite, elas vão a uma festa, por lá muitos conhecidos, dentre eles..., a Rosicler, toda sorridente vem ao encontro das duas. “Boa Noite! Que alegria encontrá-las por aqui!”

Leonor apresenta Valentina para a amiga... Mui amiga essa Leonor! A mulher atende o celular, conversa baixinho, desliga... Pede desculpas as duas, e conta que, precisa ir buscar a filha na faculdade, porém, não sabe se poderá retornar a festa.

Rosicler fica com a incumbência de dar carona para a aposentada. O seu marido Roberval é o motorista do casal, dado a perda da visão da Rose! O inferno sobre a terra tem início na vida da mulher.

Ainda, hoje, Rosicler não descobriu como a Valentina conseguiu os números dos telefones da família. Se ela liga no fixo, ninguém atende, o celular é opção..., ou, o telefone dos pais de Rose, aqui um parênteses, o pai de Rosicler está bem doente e a família reveza-se nas noites no hospital, poucos membros, muitas noites para dividir para poucos.

Acredite, a mulher liga no hospital.

“Bom dia, tudo bem!? Mamãe está bem, a irmã, o maridão, o filho... e o papai?! “

Ela nem espera a resposta e logo tasca essa: “Estou aqui sozinha, solitária... vamos sair hoje?”

Do outro lado da linha sentada ao lado do pai no hospital Rose diz que não pode sair. Desliga com um bom dia! Cinco minutos depois... “Bom dia, tudo bem!? Mamãe está bem, a irmã, o maridão, o filho... e o papai?! :Estou aqui sozinha, solitária... vamos sair hoje?”

Oito telefonemas, depois..., vencida pelo cansaço, Rose joga a toalha e marca para ir ao cinema com a tia, como ela, a chama, carinhosamente.

Uma hora antes da hora marcada para o cinema, o telefone toca:

“Boa Noite! Estou aqui sentada esperando..., seu marido não vem me buscar?”

Três anos de suplicio se passaram... Milhares de telefonemas dados... Muitos passeios feitos sem gastar absolutamente nada, nadica de nada, tudo financiado pelo casal de amigos! Inezita Barroso volta à cidade para cantar.

“Valentina sentada no banco de trás do carro pergunta: “O que vamos ver hoje?”

“Como eu já lhe falei, hoje, comprei ingressos para o show de Inezita Barroso.”

“Inezita?! De nooooovo? Já a assistimos duas vezes, a mulher está caquética, ultrapassada,...!”

Roberval, que. durante três longos anos desenvolveu a paciência zen budista, vira o carro num rompante, cantando os pneus, retorna pelo caminho... Deixa a aposentada em frente à casa.

“De hoje em diante a senhora esquece os números dos nossos telefones... ligue para a sua família levá-la aos passeios. Nossa cota de franciscanismo encerra esta noite!”

O homem não alterou a voz... A calma assustou Rosicler. Nem mesmo seus pedidos de desculpas arrefeceram o ideal do homem!