Escola dos anos 50.

Iniciei na escola muito criança, como já havia dito em um outro texto,ainda nos anos cinquenta, onde o ensino era muito diferente em seus padrões , afinal estavamos na metade do século XX, onde os professores faziam o complemento a educação recebida de casa, e os pais lhes transferiam poderes pátrios a eles, nos deixando em suas mãos e a mercê de suas vontades.

Nunca usei orelhas de burro, mas vi colegas passarem por essa humilhação, de pé diante dos coleguinhas, e sempre senti muita pena , e também medo de um dia passar por isso, mas felizmente isso não aconteceu. O máximo foi ficar de cara pra parede durante a aula, e nem me lembro porque, acho não ter sido significativo ,caso contrário me lembraria. Isso em nada me abalou, achei certa graça de criança, mais divertido que humilhante, e nem liguei . Geralmente a cara pra parede era por bagunça.

No ano seguinte passamos a usar a pena, que encaixávamos ao cabo de madeira de laca decorado ( a minha era bonita,de um azul celeste marmorizado) , e todas as manhãs o professor vinha encher os recipientes de louça com tinta azul, carteira por carteira, e todos os alunos tinham reservas de penas para a troca, pois a falta de prática nos fazia estragar as benditas penas, que se abriam com facilidade, e o mataborrão também não podia faltar, dezenas deles eram consumidos , e as broncas eram tão frequentes quanto os borrões, até a doma da mão destra. Engraçado é que já existiam canetas esferográficas, mas nada, eles queriam aquelas coisas antiquadas e torturantes, e quando nos permitiam usar as "Parker" ou as "Sheiffer" era um alívio, pois embora fossem tinteiros, não sujavam .

Os mestres eram austeros, e ficavam em suas mesas, sempre acima do nível dos alunos, pois além do piso elevado, o lugar das mesas também tinha um outro degrau ,mais alto, para que tivessem uma visão a "olho de águia" sobre os pequeninos. E tinham...pois certa vez, o colega de carteira, (sim de carteira), pois eram duplas, me pediu alguma coisa, e eu me voltei para lhe responder, e pronto...fomos chamados a frente, e tomamos duas reguadas na palma da mão, com aquelas réguas quadradas, que doiam bastante. Não chorei , apesar da pouca idade, pois era duro na queda em matéria de orgulho , e aguentei firme e com muita raiva. Tínhamos apenas sete anos, e o meu colega de carteira abriu o bocão , coitado, pois foi injusto para ambos. Foi uma das poucas vezes que a minha mãe foi reclamar, ela não era disso, mas mesmo naquele tempo, essas atitudes já eram abusivas.

As vezes passavam um filme pra garotada, na sala de projeção, mas passavam o que tinham, e cada porcaria que só por Deus...Uma vez passaram um filme chinês, e só me lembro de ser escuro, sombrio, com gente fumando narguilé, deitados e papeando entre barris e sacarias, até que adormeci durante a projeção, sendo acordado só no final pelo professor. Se me pedissem uma redação estaria frito !

Apesar dessas coisas, aprendi pouco a pouco, e até gostava da escola, e de brincar com os coleguinhas no recreio, gostava do cheiro que saia das lancheiras no pátio. Eu não era do tipo que se podia forçar muito, tinha o meu próprio tempo, e meus pais já sabiam . Para terem uma idéia, eles achavam que eu não sabia ler nada além das vogais e algumas junções, e de repente um dia peguei o cancioneiro da minha mãe e saí cantarolando as músicas sem tropeço algum, e com apenas cinco anos, e os dois ficaram de queixo caído, pois nunca havia demostrado saber.

Para os números havia uma certa dificuldade, espelhando o 5 e o 3, que saíam sempre ao contrário, o que é normal, e assim foi que guardei algumas pequenas lembraças , registros de uma época .

Quando terminava a faculdade aproveitei para fazer um curso menor de alfabetização, como complemento , e adorei os métodos das primeiras letras, do início de tudo o que vem a seguir.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 08/04/2015
Reeditado em 08/04/2015
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