Domingo sem pé de cachimbo
por carlos sena


 
 
Hoje em Gravatá amanheci esgravatando os dentes. A serração é o pano de fundo deste domingo bucólico que me remete lembranças do agreste. Ciprestes que a ilusão anuvia e que desperta noite sendo dia e que digere em nós a dimensão oceânica do viver. 
Sendo domingo dia de missa lá vou eu, véu e terço na mão içando a fé às alturas. Buscando por dentro a temperatura de Deus para que os meu se os teus entes permaneçam queridos e amados na fé. 
Sendo hoje domingo não há pé de cachimbo. Há pé de galinha na panela de guisado regado a feijão verde, como se nossas verdades nos jogassem no chão com medo de nossas mentiras. Domingo de preguiça. Onde o padre reza e a
Puta viça. Onde o novo assusta e a noviça desperdiça o prazer escondido debaixo do hábito. Assim, esgravato os dentes por falta de alternativa agrestina, bonconselhense, itinerante e que me reconduza ao feijão com farinha, ao conversê da rua e ao bisbilhotês da esquina semaforada! Semáforo? Afif! Soube disso alhures! Logo na praça que nos meus tempos de criança nos davam bola, hoje nos dão sinal? Ou farol? Meno male! 
Mas, sendo hoje domingo, resta o sabor que a imaginação deixa. E, sem queixa, melhor adormecer no friozinho de Gravatá. Tá ou num tá? 
Carlos sena - das cercanias de Gravatá-PE