A quem me queixo então? Ao bispo? 
Por Carlos Sena



Queixar-me-ei ao vento. Porque o vento invade tudo, além dos pulmões dos viventes. Invade, o vento, até as partes pudendas das mulheres pudicas que andam sem calcinha pela possibilidade de um dia serem ultrajadas em sua falsa moral. Ao vento, sim, eis a quem me queixo. Porque os bispos e padres e reis e rainha que, de fato, nos escutam são aqueles do jogo de xadrez. Na verdade eu deveria contar à dama. Porque de xadrez eu nunca entendi nada, mesmo porque nos meus tempos de Bom Conselho - estudante do grupo escolar - quando muito jogar dama já era um avanço, de tão poucas as possibilidades de avanço. Por isso nem mesmo sei direito as peças do xadrez. Indez. Não importa. Fato é que é melhor a queixa que se faz ao vento do que as que fazemos alhures como forma de nos redimir de nossas fraquezas ou fortalezas. 
A sabedoria do vento é impar. A gente se queixa pra ele e ele nem "tchum".Fresco ou quentinho o vento é singular na sua plenitude. Ignora-nos quase sempre. E quando não nos ignora a gente não tem essa certeza. Proeza. Portanto, melhor ignorar os bispos e os padres nas sua queixas e confissões. Gritar ao vento também pode ser concomitante às queixas. Cantar, idem. Porque quem canta, segundo dizem, seus males espanta. Mesmo assim prefiro o vento. Pela sua liberdade e pela sua invisibilidade. Mesmo sem vento ele está por perto, só que sem movimento. Portanto, mesmo na solidão do quarto, queixe-se ao vento. Unguento pouco utilizado nestes tempos de solidão consentida.

Carlos Sena