Um dia difícil de explicar.

Estava trabalhando como de costume, na forte rotina da área comercial da "Ford", só que naquela manhã tive uma forte intuição ,de que a minha mãe precisava de mim, urgente. Já estava quase na hora do almoço, e disse para o Ademir, que dividia a sala comigo; " Amigo, preciso sair, aconteceu alguma coisa grave , segura aí , ok " ? _ "Pode deixar Aragón " !

Sabia que a minha mãe não andava bem, e morava sozinha desde que enviuvara, anos antes, ela vinha perdendo peso, e sempre dizia que a diabete ... e que não iria virar o calendário. A perda do meu pai havia sido um baque, e ela vinha se entregando, e isso era visível.

Da "Ford" até a região da Vila Sônia, são quase 30 Km, e de trânsito chato, mas eu estava decidido a atender esse estranho sentimento que me tomara de pronto, e precisava a qualquer custo checar , mesmo que não fosse nada .

Quando cheguei, abri as portas, pois a minha mãe havia deixado um jogo de chaves comigo, meses antes, e estava tudo muito quieto, fui até a cozinha, a sala de jantar, nada, e depois subi para o andar superior, quando a encontrei caída no corredor, entre o dormitório e o banheiro, acordada, mas imóvel. Já eram pelas 14 Hr, e ela estava ali desde as 7 Hr, muito tempo ...A levantei , o que não é tão fácil quando a pessoa não tem força alguma, e ela reclamou do mal jeito, e a coloquei sobre a cama, tomou um pouco de água, e pegou fôlego para falar . Quando acordou tentou ir ao banheiro e fraquejara ,provavelmente havia desmaiado por algum tempo, e quando acordou estava sem resistência.

Sabia que não dava mais, e que dessa vez a internação não seria adiada, e brigando comigo, a levei ao hospital quase na marra, assustando-a , falando que se acontecesse o pior sairia pelo IML, pois sabia que ela tinha pavor disso, pois presenciara o que acontecera anos antes com o meu pai, o que é muito ruim.

Olhou tudo a sua volta, e a ajudei a passos lentos até a saída da casa, parou por um momento, e seguiu . Sabia, tanto quanto eu que não voltaria, era uma despedida do seu mundo, das suas coisas...

No hospital ficou uma semana, sendo que os três últimos dias já inconsciente, até a sua partida, às 4,30 Hr da madrugada. Eu estivera com ela uma hora antes, numa silenciosa despedida.

A sensação é de que aquela mulher havia feito tanto por mim, me havia protegido tanto, e eu nada pude fazer para retribuir,a não ser aquilo, e daquele jeito de merda, mas a vida se apresenta diferente dos filmes , a vida não imita a arte, mas de alguma forma aquela intuição de largar tudo, foi muito forte e decisiva, e difícil de entender o que havia me tocado naquela manhã, são mistérios ...

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 02/06/2015
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