Prioridade 
 
Passei a vida inteira sem ser prioridade. Trabalhando, fiz o que tinha que fazer da melhor maneira que pude. Dando aulas em diversas faculdades também fiz o melhorou-se pude. E até o que não pude diante dos limites impostos pela ortodoxia do preconceito. Mesmo assim não fui prioridade. Escrevi livros de poesia e de crônica. Participei de antologias poéticas. Até programa experimental de TV já fiz. Também editei artigos técnicos em revistas importantes e até palestras em faculdades famosas já fiz, mas prioridade nunca fui. Ocupei cargos técnicos de pompa no âmbito nacional e, mesmo assim, nunca fui prioridade. Servidor público federal concursado, formado por uma universidade pernambucana famosa, mesmo assim prioridade nunca fui. Professor, fui várias vezes paraninfo e também escolhido pelos alunos para dar a aula da saudade, mas prioridade nunca fui. Amigo e companheiro de gente boa e intelectualmente importante, mas prioridade que é bom nunca fui. Hoje, no auge dos maus sessenta e poucos anos, uma placa fria nas lojas, bancos e supermercados me diz que eu SOU PRIORIDADE. 
 
Por carlos sena