ORGULHOS E SILÊNCIOS

Nunca fui um sujeito com quem se possa contar para o que demanda força bruta, influência e dinheiro. No entanto, foram muitas as vezes em que pude ajudar de alguma forma pessoas próximas e queridas, o que faria de bom grado, mas, na maioria das oportunidades elas próprias me algemaram.

Evidentemente, se eu fosse uma pessoa invasiva, cara de pau, indiscreta, não teria falhado em notar e socorrer. Também não teria falhado se tivesse o poder de olhar além. Ver através de orgulhos e silêncios, para saber exatamente onde atuar e não temer censura, se algo não saísse a contento.

Como não tenho tais poderes nem me dou aos desfrutes da intromissão, teria sido providencial se tais indivíduos tivessem tido a grandeza de ser humildes. De confessar e pedir. De baixar o ego e não esperar que eu suplicasse para fazer algo por eles, mesmo sem saber o que.

Quando me foi permitido notar que precisaram de mim, já não precisavam. A essas alturas, eu era o famoso monstro insensível. A criatura egoísta e desumana que se juntou ao resto do mundo, também egoísta e desumano, para lançar à própria sorte as vítimas temporais do infortúnio e da solidão.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 01/09/2015
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